quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
O artista plástico recifense faleceu nesta quinta-feira , aos
92 anos
O artista plástico recifense Francisco Brennand faleceu nesta
quinta-feira (19/12), aos 92 anos, “em decorrência de complicações de uma
infecção respiratória”, segundo nota do Real Hospital Português, na capital
pernambucana, onde Brennand estava internado há dez dias para se tratar de uma
pneumonia. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), decretou luto
oficial de três dias no Estado e, em nota, exaltou o legado do artista:
“Francisco Brennand foi um artista notável, um homem à frente do seu tempo,
como mostra o reconhecimento que obteve, ao longo da sua trajetória, no Brasil
e no exterior. Ele pertence a uma geração de artistas que elevaram Pernambuco
ao topo”.
Ceramista, escultor, desenhista, pintor, tapeceiro,
ilustrador e gravador, Brennand é conhecido por criar gigantescos monumentos,
como os do Parque das Esculturas, um dos principais pontos turísticos da
capital pernambucana, que reúne 90 peças em homenagem aos 500 anos do
descobrimento do Brasil. Uma das que mais chamam a atenção é a Torre de
Cristal, feita em argila e bronze, com 32 metros de altura —inspirada em uma
flor descoberta pelo paisagista Roberto Burle Marx— e que pode ser vista do
Marco Zero de Recife.
A singularidade de suas obras rendeu-lhe o Prêmio Gabriela Mistral, concedido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1994. Foi o primeiro brasileiro a... |
A formação artística de Francisco de Paula Coimbra de Almeida
Brennand, que nasceu em 11 de junho de 1927, começou em 1942, quando passou a
trabalhar na Cerâmica São João como aluno informal do escultor Abelardo da
Hora. Seus trabalhos refletiam sua preocupação com o meio ambiente e o futuro
da humanidade na Terra e, já no fim da década de 1940, ele ganhou seu primeiro
prêmio como mestre ceramista. Ficou conhecido como o homem que sabia dar forma
aos sonhos e que transformou em arte a vida simples do povo.
No Colégio Oswaldo Cruz, onde se matriculou em 1943 para
concluir o segundo colegial, conheceu Déborah de Moura Vasconcelos, que se
tornaria sua mulher, e foi colega de sala do escritor Ariano Suassuna. Foi
Suassuna quem percebeu o talento de Brennand para fazer caricaturas de
professores e colegas, e o convidou para ilustrar poemas publicados no Jornal
Literário do colégio.
Em seguida, recebeu influências (e aulas) de pintura de
Álvaro Amorim, um dos fundadores da Escola de Belas Artes de Pernambuco, e de
Murilo Lagreca. Em seus quadros, estão presentes flores e frutos que parecem
flutuar no espaço, explorando o uso de linhas simplificadas e cores puras. O
gosto pela cerâmica veio depois, incentivado pelas obras dos espanhóis Pablo
Picasso e Joán Miró, além do francês Jules-Fernand-Henri Léger, com
quem teve contato durante uma estadia em Paris.
A singularidade de suas obras rendeu-lhe o Prêmio Gabriela
Mistral, concedido pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1994. Foi
o primeiro brasileiro a receber tal honraria.
Veia de colecionador
Em novembro de 1971, o artista resolveu transformar as ruínas
da Cerâmica São João da Várzea, (antigo Engenho São João), fundada em 1917 pelo
próprio pai, Ricardo Brennand, e, nas ruínas, deu início a um projeto de
esculturas de cerâmica que se multiplicaram nas áreas interna e externa do
local. Assim nasceu o Instituto Ricardo Brennand, um espaço cultural cercado de
mata atlântica preservada, que reúne um castelo, uma pinacoteca, biblioteca,
galeria de arte e um jardim de esculturas. Inaugurado em 2002, o local é
considerado um dos melhores museus do país, com um acervo permanente de objetos
histórico-artísticos, incluindo extensa documentação histórica e iconográfica
relacionada ao período colonial e ao Brasil Holandês.
O acervo inclui, por exemplo, a maior coleção do mundo de
pinturas de Frans Post, o primeiro pintor da paisagem brasileira e o
primeiro paisagista das Américas. Na biblioteca, encontram-se mais de 60.000
volumes —muitos raros—, datados do século XVI em diante.
Brennand era um colecionador dedicado. Descobriu essa vocação
ainda na infância, ao ganhar um canivete de presente do pai. Começou, então, a
colecionar armas brancas, um arsenal que hoje conta com mais de 3.000 peças,
todas expostas no Instituto. Outros destaques do acervo são o conjunto de
Armaduras Maximiliana de Campo para cavalo e cavaleiro, de 1515; a espada
pistola alemã de 1590; as espadas que pertenceram ao Rei Faruk do Egito e o
conjunto de fuzis pertencentes a Dom Pedro I e Dom Pedro II.
JOANA OLIVEIRA
EDIÇÃO DE ANB ONLINE
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