segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Academia e Sociedade
Por Sofiani Labidi |
Para
a maioria, a universidade é fundamentalmente um espaço para transmissão do
conhecimento no intuito de formar recursos humanos. Isto fez com que,
durante muitos anos, o Ensino fosse considerado a função preponderante da
universidade.
A
Pesquisa e a Extensão foram incorporadas gradativamente e fazem parte da
história recente da universidade brasileira. Atualmente, a visão
predominante é que a universidade é uma entidade desenvolvedora do tripé ENSINO
– PESQUISA – EXTENSÃO.
Entretanto,
creio que esta visão clássica de hoje deixa de ter sentido a partir do momento
em que nós não sabemos para quê serve este Ensino? Para quê serve o
conhecimento gerado? e qual será o papel dos milhares de profissionais
que colocamos no mercado a cada ano?
O
distanciamento observado entre a universidade e seu entorno: sociedade, meio
empresarial, meio industrial e meio governamental está colocando em xeque este
modelo e o papel da universidade na sociedade. Esta visão está se
tornando caduca, principalmente porque tanto o ensino, como a pesquisa e a
extensão não estão amplamente voltados para sociedade.
Ao
analisarmos o contexto e o cenário maranhense, deparamos em uma realidade
alarmante, pois, apesar de ser um estado potencialmente rico, com uma
abundância de recursos naturais e uma localização estratégica invejável, o
Maranhão apresenta os piores indicadores sociais e econômicos da
federação. É inadmissível que, em pleno século XXI, mais de 20% da
polução maranhense ainda é analfabeta. Além disso, o Maranhão detém os
piores índices de mortalidade infantil, baixa expectativa de vida, baixo Índice
de Desenvolvimento Humano –IDH, baixa produtividade, baixo Produto Interno
Bruto -PIB, Baixos índices educacionais, alto índice de pobreza, alto índice de
violência, alto índice de desemprego, etc.
Diante
deste cenário perverso, e como professor e pesquisador da Universidade Federal
do Maranhão -UFMA, me pergunto: qual é a nossa parcela de responsabilidade
nisso? Qual deva ser o grau de nossa preocupação com este cenário?
O que estamos realmente fazendo para reverter este quadro tão perverso?
Enfim, qual é, de fato, o papel da academia na sociedade?
Estamos
em pleno século XXI, vivemos na nova era da globalização, da tecnologia, do
conhecimento, da competitividade, da inovação, e da mudança. Neste
contexto, qual é o papel da academia na sociedade?
Nossas
universidades detêm a maior concentração de inteligências no estado com seus
mestres e doutores. Infelizmente, apesar deste potencial extraordinário,
nossa academia pouco faz para reverter este quadro. Ao olharmos ao redor
das nossas três grandes universidades: UFMA, IFMA e UEMA, o que observamos é
muita pobreza! E o pior, estamos bem acomodados no nosso ninho. A
universidade brasileira em geral está desconectada da realidade e pouco impacta
a sociedade.
Nós
não podemos negar a importância da universidade como uma instituição de papel
fundamental na formação dos acadêmicos lhes proporcionando um importante
crescimento profissional e pessoal. Porém, este papel não é determinante,
pois qualquer instituição acadêmica de qualquer escala e em qualquer bairro da
cidade pode cumprir este papel. A UFMA, UEMA e IFMA, pelo potencial que
têm, não podem se limitar a esta função. Acredito que nossa querida
universidade tem uma responsabilidade social bem maior e deva de fato impactar
a sociedade. Formar é a função básica da nossa universidade, que deve ser
fortalecida e desempenhada com qualidade e excelência. Entretanto, nós
não podemos se limitar a esta função.
Nossa
academia tem um débito muito grande perante a sociedade. Precisamos nos
reconciliar com os trabalhadores, o homem do campo, os movimentos sociais, o
setor produtivo, o empresariado, as comunidades carentes, e as diferentes
classes sociais. Estes segmentos reúnem as condições para quebrar o ciclo
perverso do atraso e retomar as bases do verdadeiro desenvolvimento que deve
ser baseado no conhecimento.
Acredito
muito no nosso potencial, que hoje se encontra subestimado e sub explorado, e
na nossa força em contribuir efetivamente com nosso estado, um estado tão
carente e tão necessitado da contribuição de suas inteligências. A
universidade brasileira em geral, não está cumprindo o papel que deveria ser o
seu. Ensinar, formar é o mínimo que nossa instituição possa
oferecer. Precisamos ser mais corajosos, mais audaciosos, mais atuantes e
mais envolvidos no dia-a-dia da nossa sociedade. Precisamos caminhar para
uma universidade moderna, aberta, inovadora e transformadora da sociedade onde
ela está inserida.
A
universidade, que é uma das células mais importantes da sociedade, encontra-se
em um momento crucial de sua existência. A instituição acadêmica está
enfrentando os desafios do século, além disso, sua responsabilidade perante a
sociedade está aumentando a cada dia. Porém, sua estrutura arcaica e
engessada e sua inercia estão travando seu avanço e colocando em xeque seu
papel na sociedade.
A
inovação é o motor da evolução da sociedade e a educação é seu
fundamento. A inovação passa, em primeiro lugar, pela geração de
conhecimento que a universidade sabe fazer muito bem e em segundo lugar pela
transformação do conhecimento gerado em riqueza. Isto passa pela
interação com a sociedade e com a empresa. É principalmente neste segundo
aspecto que estamos pecando.
Precisamos
se aproximar da indústria e da micro e pequena empresa. Precisamos criar
as condições para explosão do potencial da academia ruma a uma universidade
moderna, inovadora, aberta, e transformadora da sociedade. A universidade
maranhense precisa se modernizar e se preparar para enfrentar os novos desafios
da era da mudança e do conhecimento.
Sofiani
Labidi se formou na França onde obteve o Doutorado em Ciência da Computação com
ênfase em Inteligência Artificial, no Instituto Francês de Pesquisa em
Informática e Automática -INRIA, um dos centros de pesquisa mais conceituados
do Mundo. Veio ao Brasil a convite do Governo do Estado e da UFMA para
participar da implantação do primeiro programa da Pós-Graduação do Maranhão, o
mestrado e doutorado em Engenharia Elétrica.
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