Há
sete dias, a terra guardou o último suspiro de minha genitora. Eu não estava
lá, mas sei, pela certeza que só o amor oferece, que ela cumpriu a sua
despedida. Em seus últimos momentos, abriu os olhos que o Alzheimer havia
velado, fixou o olhar sereno em quem estava por perto, e nesse gesto
silencioso, fez um adeus. E depois, adormeceu profundamente, trocando o sono da
doença pelo repouso eterno.
Receber
a notícia de sua partida foi um impacto que ecoou na alma. Desloquei-me
imediatamente, movido pela necessidade de um último olhar, de contemplar a face
que me deu a vida. Ali, no silêncio da despedida, seu semblante estava
tranquilo, sereno, como se pudesse sussurrar: "Cumpri minha missão".
Enquanto
a contemplava, minha mente se encheu de reflexões, de detalhes. Ela voltava aos
braços do Pai, para o banquete celestial, para o encontro com aquele que a
antecedeu. Meu pai, que partiu exatos trinta e cinco dias antes, e que até
pouco tempo antes, vivia na preocupação de “deixar a sua velha”. Por mais de
quarenta anos, ele cuidou dela com um zelo extraordinário, especialmente após o
diagnóstico cardiológico dos anos 1970, que lhe dera apenas três meses de vida.
Mas
meu pai tinha um espírito indomável. Juntou o que tinha, contatou amigos e
partiu para os grandes centros, o Rio e São Paulo, em busca de novas técnicas,
novos procedimentos. E ele estava certo. Mais de cinco décadas se passaram, e
ela continuou conosco.
Eles
puderam testemunhar e acompanhar meus gloriosos trinta e cinco anos na Polícia
Militar do Maranhão, minhas inúmeras conquistas, minhas viagens de estudo e os
reconhecimentos que me foram concedidos. Também vivenciaram a colocação do meu
sonho em prática com a criação da Academia Maranhense de Ciências, Letras e
Artes (AMCLAM). Meus pais foram, em todos os sentidos, minha base. Participaram
ativamente de minha vida, me ajudaram a tomar decisões, me orientaram e oraram
por mim. Era constante a minha presença em seu lar, para pedir a benção,
conversar, dialogar e mantê-los a par de tudo.
Eis
a razão do vazio, a razão de eu me sentir órfão. Já não conto mais com suas
presenças físicas, apenas com a espiritual. Minha conexão agora se fortalece
nos direcionamentos que me ofertaram, nos valores e princípios arraigados, na
fé inabalável que nutriam e que me direcionavam.
Não
sinto tristeza com suas partidas, pois sei que a missão foi cumprida. Sinto, no
entanto, uma saudade imensa. A saudade de um olhar, de uma palavra, de um
abraço. A saudade que me lembra que o amor transcende o plano físico e se
eterniza em cada passo que dou.
Cel. Carlos Furtado é escritor, presidente da Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares (AMCLAM). Presidente da Academia de Letras dos Militares Estaduais do Brasil e do Distrito federal (ALMEBRAS). Vice-presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão (FALMA).
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