domingo, 29 de dezembro de 2019
O autor do romance, Vladimir Nabokov, considerava que a
atriz, falecida na última quinta-feira aos 73 anos, era a única que podia
interpretar a personagem na telona
Sue Lyon, que aos 14 anos deu vida a Lolita no filme
homônimo de 1962 de Stanley Kubrick, morreu na noite da última quinta-feira aos
73 anos em Los Angeles (Estados Unidos). A causa da morte não foi divulgada,
mas a saúde da atriz vinha piorando nos últimos anos, como revelou seu amigo
Phil Syracopoulos. Embora seu papel mais conhecido seja o de Lolita,
ela esteve na ativa desde 1959, quando estreou na série The Loretta
Young Show (na qual Kubrick a descobriu), até 1980, com Alligator
– O Jacaré Gigante.
Não demorou para que aquela imagem de uma adolescente de
biquíni com óculos escuros em forma de corações, na beira de uma piscina e
chupando pirulito (o cartaz do filme, de Bert Stern, imagem que não aparecia no
longa), ou deixando-se pintar as unhas dos pés por um transtornado Humbert
Humbert —encarnado por James Mason—, marcasse o inconsciente de uma geração de
cinéfilos, que se lembrarão de como o pedófilo Humbert pronunciava
com pausas seu nome: “Lo-Li-Ta”. Seu grande papel veio após um casting exaustivo,
do qual mais de 800 atrizes participaram. O autor do romance original, Vladimir
Nabokov, considerava que ela era a única que podia interpretar a jovem na
telona. “A ninfa perfeita”, foi o apelativo que o escritor usou para se referir
a ela, embora dizendo que também teria gostado se a personagem fosse
interpretada pela francesa Catherine Demongeot. Stanley Kubrick evitou
problemas com a censura ao escolher uma atriz com mais idade (14 anos, embora
na tela fosse dito que Lolita tinha 15) que a da ninfeta do livro (12).
AOS 73 ANOS Não demorou para que aquela imagem de uma adolescente de biquíni com óculos escuros em forma de corações, na beira de uma piscina e... |
Para Suellyn Lyon, foi o princípio e o fim, a virtude de
encontrar um papel que a lançaria ao estrelato e interpretá-lo à perfeição, e a
condenação de que nenhum espectador a esqueceria, por mais que crescesse na
frente e atrás das câmeras. Nascida em Davenport (Iowa), Lyon começou a atuar
ainda criança. Caçula de cinco filhos, seu pai morreu quando ela tinha apenas
10 meses. Com a mudança da família para Los Angeles, Lyon trabalhou como modelo
para catálogos da rede de lojas J. C. Penney e apareceu em alguns comerciais na
TV. Antes de Lolita, só tinha participado de produções para a telinha, como a
série Dennis the Menace e a citada The Loretta Young
Show.
Depois de sua primeira incursão no cinema, que lhe valeu
o Globo de Ouro de 1963 na categoria “Atriz revelação”, trabalhou
em The Night of The Iguana (1964), sob a direção de John
Houston. Naquele mesmo ano se casou, numa breve união, com o roteirista Hampton
Fancher III. No cinema ela não se deu muito melhor, com trabalhos em Sete
Mulheres (1966), de Ford; Um Magnífico Farsante (1967),
de Irvin Kershner; e o Tony Rome (1967), com Frank
Sinatra. Warren Beatty quase a escolheu para estrelar com ele Bonnie e
Clyde, mas se decidiu por Faye Dunaway, enquanto Lyon se casava com o
fotógrafo afro-americano Roland Harrison em 1971. Desse casamento nasceu sua
filha, Nona, em Los Angeles, antes do divórcio do casal, em 1972. Lyon atribuía
alguns de seus comportamentos mais erráticos ao fato de ser maníaco-depressiva,
condição tratada com lítio.
Um bom exemplo é seu terceiro casamento, que em 1973 a uniu
com um detento de uma prisão de Denver, Gary Adamson, condenado por roubo e
assassinato. Lyon conseguiu que a pena dele fosse reduzida, trabalhou como
garçonete perto da penitenciária e se divorciou em 1974, quando Adamson voltou
a roubar. Ela se casaria outras duas vezes.
Lyon não conseguiu melhores papéis no cinema nem na TV. Sua
carreira artística acabou em 1980 com Alligator – O Jacaré Gigante,
com Robert Forster, e ela tornou pública a sua retirada em 1986. Durante muito
tempo, a atriz renegou Lolita. Em 1997, quando estreou a nova
versão de Adrian Lynne, ela disse à Reuters: “Estou horrorizada com a ideia de
que querem ressuscitar o filme que causou minha destruição como pessoa”.
AS INFORMAÇÕES SÃO DO REPÓRTER GREGORIO BELINCHÓN
EDIÇÃO DE ANB ONLINE
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