terça-feira, 31 de dezembro de 2019
Estudo do Data Favela mostra que
moradores desses conglomerados estão otimistas de que realizarão, por conta
própria, os principais sonhos pessoais e profissionais. Mas creem que os votos
coletivos, como o de menos violência, não se concretizarão
Enquanto o país tenta lidar com
a crise econômica, nas favelas brasileiras, onde a crise sempre existiu, é
o otimismo que prevalece para o ano que começa: oito de cada dez moradores
acreditam que a vida em 2020 será melhor, seja com respeito às finanças,
à saúde ou às relações familiares. Mas a sorte não
depende de Governos para 64% deles: ela virá, principalmente, do esforço
próprio. Tornar-se um empreendedor é a principal expectativa profissional, ao
lado da conquista da casa própria no âmbito pessoal. Os dados fazem parte da
maior pesquisa desenvolvida até hoje no Brasil sobre favelas, onde moram 13,6
milhões de brasileiros —pouco mais de 6% da população do país. E os números
mostram que se a esperança de realização dos desejos pessoais e profissionais é
alta, a de conquistar um sonho coletivo para a comunidade, como mais segurança
para os moradores, é baixa. Apenas 28% das pessoas têm certeza que os sonhos
para a comunidade serão alcançados.
O levantamento foi realizado em
dezembro deste ano em mais de 60 favelas de todos os Estados do país pelos
institutos Data Favela e Locomotiva, em parceria com a Central Única das
Favelas (CUFA) e a Comunidade Door. Moradores das próprias comunidades foram
treinados para a realização da pesquisa, contribuindo com a elaboração das
perguntas, a coleta de informações por meio de 2.006 entrevistas e a interpretação
dos dados. “A favela continua otimista com relação ao futuro, como já apontavam
pesquisas anteriores. Isso tem a ver com o fato de que a crise é regra na
favela, não exceção. O otimismo tem muito mais a ver com a confiança no seu
esforço do que com uma solução mágica vinda de fora”, explica Renato Meirelles,
presidente do Instituto Locomotiva. Mas se, em 2013, 94% dos moradores davam
nota de 8 a 10 para sua felicidade, neste ano de 2019 o percentual caiu para
74%.
No Brasil, as favelas estão
concentradas principalmente nas capitais e regiões metropolitanas. A vida ali
não é fácil. Somente dois a cada dez moradores desses territórios conseguem ter
alguma reserva financeira, por exemplo. E 29% têm conseguido alguma renda
graças aos serviços prestados por meio de aplicativos, um símbolo da
precarização do trabalho. Nesse cenário, há nas favelas brasileiras cerca de
4,2 milhões de pessoas querendo empreender, mais da metade delas (58%) dentro
da própria favela. É este, aliás, o maior desejo profissional dos moradores
para 2020: 35% dos entrevistados sonham em ter seu próprio negócio.
“Isso não quer dizer que cresceu um
pensamento liberal na favela. É algo que tem a ver com necessidade”,
alerta Renato Meirelles. A lógica é outra. Celso Athayde, do Data Favela,
explica que, nas comunidades mais pobres as pessoas aprendem desde cedo a se
virar, seja fazendo um bico ou algum trabalho para fora. E que, num território
onde as oportunidades ainda são tão reduzidas, empreender significa uma renda a
mais e quase nunca uma atividade que vem sozinha. “É natural para uma mulher
que é faxineira e também faz trabalho de cabeleireira em casa sonhe em ter seu
próprio salão”, exemplifica.
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Neste lugar onde os governos já falharam tantas vezes em garantir o básico, as mulheres chefiam 49% dos lares.
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Mas o maior sonho pessoal do morador
da favela é ter a casa própria. Ao todo, 52% dos entrevistados têm certeza que
conseguirão realizar seu maior sonho até 2020 e apenas 1% acredita que jamais
conseguirá concretizá-los. “Crise é algo recorrente na vida das pessoas que
nasceram nesses territórios. Elas não sonham muito alto. A favela é um espaço
físico onde domina a resiliência, e a superação é um norte. Vivemos no Brasil
uma crise moral e política, e as favelas percebem isso também. Mas nos
territórios se consegue acreditar na felicidade e que o futuro vai ser melhor
porque elas não têm muitas alternativas e caminhos. É uma coisa quase
cultural”, diz Athayde.
Neste lugar onde os governos já
falharam tantas vezes em garantir o básico, as mulheres chefiam 49% dos lares.
Elas estão ainda mais otimistas que os homens para o ano que vem: 55% acreditam
que realizarão seus sonhos até 2020, enquanto só 44% dos homens têm essa mesma
confiança. O principal empecilho apontado pelos entrevistados para alcançar
seus desejos é o dinheiro (67%), seguido da disciplina (32%), do tempo (25%) e
da sorte (16%).
Mas quando o assunto é o sonho
coletivo para a favela, a expectativa geral diminui. “O grande sonho da favela
é a segurança. E quando a gente fala em segurança estamos falando de sair
de casa sem achar que você pode morrer por uma bala perdida dentro do
território”, afirma Renato Meirelles. Ao todo, 30% dos entrevistados colocaram
a segurança para os moradores com o principal desejo para o território onde
moram. Outros 17% sonham com mais infraestrutura e 12% com melhor acesso à
saúde. No entanto, apenas 28% acreditam de fato que podem alcançar seu desejo
para a comunidade.
BEATRIZ JUCÁ
EDIÇÃO DE ANB
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