sexta-feira, 26 de outubro de 2018
Morto depois de
entrar no consulado do seu país no dia 2 de outubro
ISTAMBUL — Um dos 15
membros do grupo de suspeitos de assassinar o jornalista saudita Jamal Khashoggi , morto depois de
entrar no consulado do seu país em Istambul no dia 2 de outubro, deixou o edifício
com as roupas da vítima, o que foi
registrado por câmeras de segurança,
informou nesta segunda-feira a “ CNN ”.
De acordo com
imagens obtidas pela rede americana, o homem deixou o consulado pela porta dos
fundos, com as roupas de Khashoggi, uma barba falsa e óculos.
Ele foi visto na Mesquita Azul , ponto turístico
da cidade, horas após o desaparecimento
de Khashoggi.
Um funcionário
do governo turco citado pela CNN identificou o homem disfarçado
como Mustafa al-Madani, um dos integrantes da suposta equipe de assassinos que
chegou a Istambul naquele dia para matar Khashoggi.
O sapato usado pelo
dublê,
um tênis
de solado branco, em contraste com o calçado
formal preto de Khashoggi, evidencia que são
pessoas diferentes.
O fracasso da criação
do dublê
pode ter sido uma das causas para o governo saudita ter admitido na sexta-feira
que Khashoggi morreu depois de entrar no consulado, aonde foi para buscar
documentos necessários a seu casamento
com a noiva turca. Segundo a versão
divulgada na sexta por Riad, o jornalista teria se envolvido em uma briga, que
teria levado à sua morte.
Funcionários
da Inteligência turca contrariam esta versão
e dizem ter gravações de áudio
que provam que Khashoggi
foi torturado, sedado e esquartejado . A presença
de membros do alto escalão da segurança
real saudita e de um médico legista na
equipe que foi até a Turquia sugerem que
a intenção
inicial da equipe era o assassinato.
Imagem mostra Khashoggi conversando com a sua noiva antes de entrar no consulado da Arábia Saudita. |
Outras imagens de câmeras
de segurança mostram o jornalista se
despedindo da sua noiva antes de entrar no consulado saudita.
Uma história, muitas versões
Nesta segunda-feira,
um conselheiro do presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, rejeitou a afirmação
saudita de que Khashoggi morreu durante uma briga, e insinuou que Riad “zombou” da opinião
mundial, enquanto aumentava a incredulidade ocidental diante das várias
versões
sauditas para a morte do jornalista.
“É
impossível
não
se perguntar como pode ter havido uma ‘troca de socos’ entre 15
combatentes jovens especializados (…) e Khashoggi, de 60 anos, sozinho e
impotente”,
escreveu Yasin Aktay, conselheiro do presidente turco e amigo de Khashoggi, no
jornal pró-governo “Yeni Safak”.
“O argumento da
‘troca de socos’ para a morte de Khashoggi é
um cenário
montado às
pressas agora que ficou claro que os detalhes do incidente virão
à
tona em breve”,
escreveu Aktay. “Quanto
mais se pensa nisso, mais parece que se está
zombando da nossa inteligência.”
Desde o
desaparecimento de Khashoggi, colunista do jornal “Washington Post” e crítico
do poderoso príncipe herdeiro saudita Mohammed
bin Salman, a versão oficial da Arábia
Saudita já mudou algumas vezes. Após inicialmente
negar conhecimento do destino do jornalista, o reino passou a defender que ele
morreu durante uma briga no consulado, após
um “erro monumental”, em “uma operação
clandestina”.
Riad anunciou a
destituição
do vice-diretor do serviço de inteligência
saudita, o general Ahmed al-Asiri, e de outros altos funcionários.
Além
disso, disse que 18 suspeitos foram detidos.
Para alguns
analistas, as destituições e detenções
são
uma forma de apontar bodes expiatórios
e de manter afastado do caso o príncipe
herdeiro, verdadeiro homem forte do reino.
O jornal turco “Yeni
Safak” afirma nesta segunda-feira que o homem apontado como o líder
da equipe saudita de 15 agentes enviados a Istambul para matar o jornalista
permaneceu diretamente em contato com o gabinete de MBS após
a morte.
O homem citado é
Maher Abdulaziz Mutreb, membro da guarda pretoriana do príncipe
e que pode ser observado em imagens de câmeras
de segurança ao chegar ao consulado saudita
e depois na residência do cônsul
no dia do desaparecimento.
Um grupo de países
, incluindo Alemanha, Reino Unido, França
e Turquia, pressionou a Arábia Saudita
para que apresente fatos, e a chanceler Angela Merkel disse que Berlim não
exportará
armas à
nação
do Oriente Médio enquanto persistir qualquer
incerteza a respeito do destino de Khashoggi.
Erdogan disse que
divulgará
informações
completas sobre as conclusões da
investigação feita pela polícia
turca em um discurso na terça-feira.
As informações
são de O
Globo
Edição
de Fernando Atallaia
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