terça-feira, 27 de junho de 2017
Projeto de lei que enquadra movimento social na Lei Antiterrorismo avança na Câmara
Entidades emitiram nota de repúdio ao PL e ao substitutivo do relator que endurece lei; movimentos temem criminalização.
A Lei Antiterrorismo, aprovada no ano passado e bastante criticada por
grupos da sociedade civil organizada, pode se tornar mais rígida a partir de
agora. A constatação resulta do avanço da tramitação do Projeto de Lei (PL)
5.065/2016, que endurece pontos da legislação e pode ter o parecer apresentado
nesta quarta (28) pelo relator, o deputado Hugo Legal (PSB-RJ), favorável à
iniciativa. Como resposta à matéria, cerca de 60 entidades emitiram, nesta
terça (27), uma nota de repúdio ao PL e ao substitutivo do pessebista.
Entre outras coisas, o projeto inclui o caráter “político e ideológico”
no rol de motivações que podem caracterizar crime de terrorismo e retira a
salvaguarda para movimentos populares e manifestantes – o ponto mais
polêmico na negociação entre os parlamentares à época da aprovação da Lei.
Para a advogada Camila Marques, do Centro de Referência Legal em
Liberdade de Expressão e Acesso à Informação (Artigo 19), as referidas
alterações representariam risco para a liberdade de protesto dos movimentos
sociais. Na avaliação dela e das demais entidades que assinam a nota, a medida
visa à criminalização desses grupos.
“Nós sabemos que quem
vai para rua com pautas políticas, com demandas ideológicas são os movimentos
sociais. Essa, inclusive, é uma atividade legítima e essencial em qualquer
sociedade democrática. Fica claro que esse novo PL tem um objetivo certo, que é
a criminalização, o silenciamento das ruas. Tirar a população das ruas é tirar a
possibilitar de ela reivindicar seus direitos”, sustenta a dirigente.
A advogada salienta que
a edição da própria Lei Antiterrorismo já teria sido um retrocesso para o país,
pelo caráter conservador. “Ela é alvo de amplas críticas da sociedade civil
porque é uma lei com texto muito vago, genérico, que fica à mercê de
interpretações de membros do sistema de Justiça, que, muitas vezes, fazem
leituras bastante criminalizadoras”, destaca, acrescentando que o PL reforça o
caráter conservador.
![]() |
| Criminalização de protestos tem sido grande preocupação de movimentos populares. Na foto, militante reivindica liberdade de expressão. |
Ao ampliar as condutas
que podem ser tipificadas como terroristas, o PL insere, por exemplo, os atos
de violência contra funcionários públicos. Para Marques, o destaque demarca uma
espécie de assimetria entre o tratamento dado a servidores e aquele dispensado
aos demais cidadãos.
“Esse tipo de coisa é
comum em regimes ditatoriais, militares, em que existe uma proteção muito maior
dos agentes públicos. Mas uma democracia deve ser pautada pelo princípio da
igualdade. A vida de todos deve ter o mesmo valor. A gente entende que essa
previsão [do PL] é totalmente inadequada e até mesmo inconstitucional”,
qualifica a dirigente.
No rol do PL também
constam, por exemplo, os danos a bens como ferrovias e rodovias. A advogada
critica a cláusula pelo fato de esses não serem considerados bens
essenciais: “É muito diferente alguém cometer um ato terrorista contra um
hospital, por exemplo, que precisa funcionar pra garantir a vida humana, do que
contra uma ferrovia. Vemos uma desproporcionalidade nisso”.
Parecer
O parecer do relator, deputado
Hugo Legal (PSB-RJ), foi recebido com surpresa pelas entidades da sociedade
civil organizada porque ele se posiciona pela aprovação da maior parte do PL e
propõe ainda algumas alterações, que podem deixar a Lei mais restritiva.
Além de acolher a retirada
da salvaguarda para movimentos sociais no substitutivo, o deputado defende, por
exemplo, a ampliação das penalidades, que poderiam ser de 20 a 30 anos de
reclusão em alguns casos, se o parecer for aprovado. “São multas altíssimas e
muito desproporcionais”, considera Camila Marques.
Para a assessora de advocacy da Rede de Justiça Criminal,
Andresa Porto, a iniciativa desperta preocupação porque seria um incentivo à
cultura do encarceramento. “O Brasil hoje tem uma das maiores populações
carcerárias do mundo e num ritmo crescente. Não se tem dado atual sobre o
assunto porque o último boletim do Ministério da Justiça é de 2014, mas a
estimativa é de que já tenhamos alcançado um número maior do que o que havia na
época. Proposições como essa levam o país a continuar seguindo essa onda de
encarceramento, na contramão de outros países”, aponta.
Representantes das
entidades foram nesta terça (27) ao gabinete do relator, na Câmara, para
entregar a nota de repúdio, mas foram informadas de que ele ainda não se
encontrava no local. O documento foi entregue à equipe do parlamentar e o
deputado ainda não se pronunciou sobre o assunto. O Brasil de Fato procurou a
assessoria de imprensa do pessebista, mas não teve retorno até o fechamento
desta reportagem.
Além das entidades,
especialistas e alguns parlamentares de oposição assinam o documento, entre
eles o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Cezar Britto e os
deputados Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), Chico Alencar (PSOL-RJ) e Paulo Pimenta
(PT-RS).
Autoria
A matéria tramita
atualmente na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado
(CSPCO) da Câmara, onde deve ter o parecer do relator apresentado nesta quarta
(28), e é de autoria do deputado Delegado Edson Moreira (PR-MG).
Para o parlamentar, as
alterações seriam necessárias para aprimorar a Lei Antiterrorismo. Ele afirma
que o PL estaria sendo vítima de interpretações equivocadas por parte de alguns
segmentos.
“A Lei [Antiterrorismo]
não viu todos os aspectos do país. Meu negócio não é [enquadrar] quem vai
protestar, e sim o pessoal que está realmente fazendo terror, usando armamento
de guerra, explodindo caixas eletrônicos, tomando de assalto quartéis, causando
verdadeiro pânico na população e trazendo como nunca o tráfico de drogas. Isso
é terrorismo”, defende o deputado.
Sobre as críticas
relacionadas à proposta de inclusão de atos contra funcionários públicos no rol
da legislação, ele reitera que haveria problemas de interpretação em relação ao
parecer. “As pessoas têm que entender o espírito da proposta”, finalizou.
Trâmite
Caso seja aprovado na
Comissão de Segurança Pública da Câmara, o PL 5.065/2016 deve ser encaminhado à
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para avaliação da constitucionalidade
da matéria.
Edição de Vanessa
Martina Silva
Assinar:
Postar comentários
(Atom)
Postagens mais visitadas
-
Natural de Codó, Gerude é autor de clássicos como ’Eu te Conheço Carnaval’, 'Tempo de Guarnicê' e ‘Jamaica São Luís’. Com 42 anos de...
-
Saiu o clipe oficial de 'Ia Ia', nova música do cantor e compositor César Nascimento. A concepção artística e de imagens de referênc...
-
Num cenário onde a disputa nas Proporcionais ainda segue sem prediletos no Maranhão, pré-candidatos a deputado estadual e federal correm con...
-
Um servidor da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) está sendo processado após chamar o ministro do Supremo Tribunal Federal (ST...
-
POLÍCIA CIVIL APURA O CASO E BUSCA AUTORES; VÍTIMA TINHA 18 ANOS E NÃO POSSUÍA ANTECEDENTES CRIMINAIS Walisson Pinheiro Santos, de 18 anos, ...
-
Em razão da comemoração do Dia do Comerciário, nesta segunda-feira(20), o comércio da Grande São Luís que abrange São Luís, São José de Riba...
-
"MÚSICA BRASILEIRA ESTÁ DOENTE COM TANTO MAU GOSTO!’’ No Rio de Janeiro, aos 82 anos, o violonista e compositor carioca Dori Caymmi la...
-
DICA MUSICAL DO BLOG DO FERNANDO ATALLAIA PARA A NOITE DESTA TERÇA-FEIRA Ícone da Música Romântica Maranhense-MRM, Lairton lança novo clipe....
-
O deputado federal Pastor Gil(PL) usou uma de suas redes sociais para prestar homenagem ao Dia das Crianças comemorado neste domingo(12). A ...
-
O julgamento que investiga a suposta cobrança de propina em emendas parlamentares por deputados maranhenses pode tomar um novo rumo. Em depo...
Pesquisar em ANB
Nº de visitas
Central de Atendimento
FAÇA PARTE DA EQUIPE DA AGÊNCIA DE NOTÍCIAS BALUARTE
Denúncias, Sugestões, Pautas e Reclamações: agencia.baluarte@hotmail.com
atallaia.baluarte@hotmail.com
Sua participação é imprescindível!
Denúncias, Sugestões, Pautas e Reclamações: agencia.baluarte@hotmail.com
atallaia.baluarte@hotmail.com
Sua participação é imprescindível!

0 comentários:
Postar um comentário