sábado, 15 de outubro de 2016
Professora de Economia da USP lista 10 perguntas e respostas sobre a PEC
241
Economista Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia, Contabilidade e Administração da USP, organizou uma lista de perguntas e respostas sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241. |
Economista Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia, Contabilidade
e Administração da USP, organizou uma lista de perguntas e respostas sobre a
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241. De forma didática, ela tira as
principais dúvidas sobre o assunto.
A economista Laura Carvalho organizou uma lista de perguntas e respostas
sobre a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, que limita o crescimento
dos gastos públicos. De forma didática, ela tira as principais dúvidas sobre o
assunto e ajuda a desconstruir alguns mitos em relação ao tema. Confira:
1. A PEC serve para estabilizar a dívida
pública?
Não. A crise fiscal brasileira é, sobretudo uma crise de arrecadação. As
despesas primárias, que estão sujeitas ao teto, cresceram menos no governo Dilma
do que nos dois governos Lula e no segundo mandato de FHC. O problema é que as
receitas também cresceram muito menos – 2,2% no primeiro mandato de Dilma, 6,5%
no segundo mandato de FHC, já descontada a inflação. No ano passado, as
despesas caíram mais de 2% em termos reais, mas a arrecadação caiu 6%. Esse
ano, a previsão é que as despesas subam 2% e a arrecadação caia mais 4,8%.
A falta de receitas é explicada pela própria crise econômica e as desonerações
fiscais sem contrapartida concedidas pelo governo e ampliadas pelo Congresso.
Um teto que congele as despesas por 20 anos nega essa origem pois não garante
receitas, e serve para afastar alternativas que estavam na mesa no ano passado,
como o fim da isenção de 1995 sobre tributação de dividendos, o fim das
desonerações e o combate à sonegação. A PEC garante apenas que a discussão seja
somente sobre as despesas.
A PEC 241 também desvia o foco do debate sobre a origem da nossa alta
taxa de juros – que explica uma parte muito maior do crescimento da dívida, já
que se refere apenas às despesas primárias federais. Uma elevação da taxa de juros
pelo Banco Central tem efeito direto sobre o pagamento de juros sobre os
títulos indexados à própria taxa Selic, por exemplo – uma jabuticaba
brasileira.
A PEC é frouxa no curto prazo, pois reajusta o valor das despesas pela
inflação do ano anterior. Com a inflação em queda, pode haver crescimento real
das despesas por alguns anos (não é o governo Temer que terá de fazer o
ajuste). No longo prazo, quando a arrecadação e o PIB voltarem a crescer, a PEC
passa a ser rígida demais e desnecessária para controlar a dívida.
2. A PEC é necessária no combate à inflação?
Também não. De acordo com o Banco Central, mais de 40% da inflação do ano
passado foram causados pelo reajuste brusco dos preços administrados que
estavam represados (combustíveis, energia elétrica…). Hoje, a inflação já está
em queda e converge para a meta. Ainda mais com o desemprego aumentando e a
indústria com cada vez mais capacidade ociosa, como apontam as atas do BC.
3. A PEC garante a retomada da confiança e do crescimento?
O que estamos vendo é que o corte de despesas de 2015 não gerou uma retomada.
As empresas estão endividadas, têm capacidade ociosa crescente e não conseguem
vender nem o que são capazes de produzir. Os indicadores de confiança da
indústria, que aumentaram após o impeachment, não se converteram em melhora
real. Os últimos dados de produção industrial apontam queda em mais de 20
setores. A massa de desempregados não contribui em nada para uma retomada do
consumo. Que empresa irá investir nesse cenário?
Uma PEC que levará a uma estagnação ou queda dos investimentos públicos
em infraestrutura física e social durante 20 anos em nada contribui para reverter
esse quadro, podendo até agravá-lo.
4. A PEC garante maior eficiência na gestão do dinheiro público?
Para melhorar a eficiência é necessário vontade e capacidade. Não se define
isso por uma lei que limite os gastos. A PEC apenas perpetua os conflitos atuais
sobre um total de despesas já reduzido. Tais conflitos costumam ser vencidos
pelos que têm maior poder econômico e político. Alguns setores podem conquistar
reajustes acima da inflação, e outros pagarão o preço.
5. A PEC preserva gastos com saúde e educação?
Não, estas áreas tinham um mínimo de despesas dado como um percentual da
arrecadação de impostos. Quando a arrecadação crescia, o mínimo crescia. Esse
mínimo passa a ser reajustado apenas pela inflação do ano anterior. Claro que
como o teto é para o total de despesas de cada Poder, o governo poderia
potencialmente gastar acima do mínimo. No entanto, os benefícios previdenciários,
por exemplo, continuarão crescendo acima da inflação por muitos anos, mesmo se
aprovarem outra reforma da Previdência (mudanças demoram a ter impacto). Isso
significa que o conjunto das outras despesas ficará cada vez mais comprimido.
O governo não terá espaço para gastar mais que o mínimo em saúde e educação
(como faz hoje, aliás). Gastos congelados significam queda vertiginosa das
despesas federais com educação por aluno e saúde por idoso, por exemplo, pois a
população cresce.
Outras despesas importantes para o desenvolvimento, que sequer têm mínimo
definido, podem cair em termos reais: cultura, ciência e tecnologia,
assistência social, investimentos em infraestrutura, etc. Mesmo se o país
crescer…
6. Essa regra obteve sucesso em outros países?
Nenhum país aplica uma regra assim, não por 20 anos. Alguns países têm regra
para crescimento de despesas. Em geral, são estipuladas para alguns anos e a
partir do crescimento do PIB, e combinadas a outros indicadores. Além disso,
nenhum país tem uma regra para gastos em sua Constituição.
7. Essa regra aumenta a transparência?
Um Staff Note do FMI de 2012 mostra que países com regras fiscais muito
rígidas tendem a sofrer com manobras fiscais de seus governantes. Gastos realizados
por fora da regra pelo uso de contabilidade criativa podem acabar ocorrendo com
mais frequência.
O país já tem instrumentos de fiscalização, controle e planejamento do
orçamento, além de metas fiscais anuais. Não basta baixar uma lei sobre teto de
despesas, é preciso que haja o desejo por parte dos governos de fortalecer
esses mecanismos e o realismo/transparência da política fiscal.
8. A regra protege os mais pobres?
Não mesmo! Não só comprime despesas essenciais e diminui a provisão de
serviços públicos, como inclui sanções em caso de descumprimento que seriam
pagas por todos os assalariados. Se o governo gastar mais que o teto, fica
impedido de elevar suas despesas obrigatórias além da inflação. Como boa parte
das despesas obrigatórias é indexada ao salário mínimo, a regra atropelaria a
lei de reajuste do salário mínimo impedindo sua valorização real – mesmo se a
economia estiver crescendo.
O sistema político tende a privilegiar os que mais têm poder. Reajusta salários
de magistrados no meio da recessão, mas corta programas sociais e investimentos.
Se nem quando a economia crescer, há algum alívio nessa disputa (pois o bolo
continua igual), é difícil imaginar que os mais vulneráveis fiquem com a fatia
maior.
9. A PEC retira o orçamento da mão de políticos corruptos?
Não. Apesar de limitar o tamanho, são eles que vão definir as prioridades
no orçamento. O Congresso pode continuar realizando emendas parlamentares
clientelistas. No entanto, o Ministério da Fazenda e do Planejamento perdem a
capacidade de determinar quando é possível ampliar investimentos e gastos como
forma de combate à crise, por exemplo. Imagina se a PEC 241 valesse durante a
crise de 2008 e 2009?
10. É a única alternativa?
Não. Há muitas outras, que passam pela elevação de impostos sobre os que
hoje quase não pagam (os mais ricos têm mais de 60% de seus rendimentos isentos
de tributação, segundo dados da Receita Federal), o fim das desonerações
fiscais que até hoje vigoram e a garantia de espaço para investimentos públicos
em infraestrutura para dinamizar uma retomada do crescimento. Com o crescimento
maior, a arrecadação volta a subir.
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EDIÇÃO DA AGÊNCIA BALUARTE
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