sábado, 2 de maio de 2015
Apresentação
“Poeta, que inquietações te tomam quando
emerges do próprio lago e trazes contigo o lodo da água que a Palavra revolveu?
(Arriete Vilela)
Por William Amorim |
Há
pessoas cuja condição (maldição?) humana é ter alma renascentista, isto é,
carecerem expressar-se de muitos modos. Pertence a esse seleto - e cada vez
mais raro – grupo, o poeta, cantor, compositor, jornalista, blogueiro, crítico
de cultura e de política, Fernando Atallaia, que ora tenho a alegria de
apresentar sua expressão poética inscrita neste corajoso livro, Ode Triste para Amores Inacabados.
O
autor nos faz redescobrir que não é sem consequências o abrir as portas da
poesia. Uma vez abertas, pode-se ganhar mundos pois, como diz o poeta, “poesia
que é poesia não cabe em antologias e coletâneas (...) Porta de mundo para
muitos universos, entradas (...) para o inesperado”.
Súbito,
o primeiro poema anuncia o que aguarda o leitor: uma escrita dionisíaca,
comprometida, portanto, com o descentramento do ser, um convite a sair de si
mesmo, um passeio pelo mais pulsional em nós. Que não se espere uma poesia
apolínea, preocupada com as boas medidas. Afinal, Dionísio é o deus da
impulsividade, da força, da embriaguez e conduz para além dos
domínios da consciência, rumo ao desconhecido , ao imponderável.
Para
Nadine Gordimer, “A poesia é, ao mesmo tempo, um esconderijo e um
alto-falante”. Nada mais adequado, parece-me, para indicar a
condição renascentista de Fernando: é na poesia que suas vozes
narrativas se escondem para que o poeta, com seus versos alto(auto)-falantes,
advenha e invoque o deus do gozo.
O
amor ao qual o titulo do livro faz referência é um amor paixão, uma
promessa que não se cumpre. Um amor que está além do prazer, um amor regido
pelo gozo, pelo excesso, pelo efêmero, que não se conforma com as convenções
sociais, que sabe – tal qual os versos do Bandeira – que “ os corpos se
entendem, mas as almas não”.
Por
fim, trata-se de um livro antropofágico. Resultado da devoração de
poetas dionisíacos como a minha querida e saudosa amiga Hilda Hist. Esta é
certamente uma referência direta, expressa na grande metáfora que é
o titulo da obra, nos próprios poemas e sobretudo nos versos do Vivi
Fernandes e Lara Stevens devorando Hilda Hilst.
Vivi
e Lara são o próprio Atallaia que, ao refestelar-se da poeta paulistana,
comunga do fingimento poético de versos
pseudo-fesceninos. Tanto em Hilda quanto em Fernando o obsceno é quase
religioso. É o que religa o humano ao próprio humano incessante e
cotidianamente convocado a se excluir.
Quem
não tiver medo de “gozar neste latifúndio”, que adentre. Entre nesta aventura
literária que, como diria Benedetti, “é uma drenagem da vida que ensina a não
temer a morte”.
William
Amorim é escritor, psicanalista e professor Me. Departamento
Acadêmico de Letras/IFMA.
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Fernando Atallaia é realmente um cara que é porta-voz da poesia e do ser humano, parabens cara e sucesso ae
ResponderExcluirRenato - Letras
Fernando Atallaia, excelente jornalista, músico, compositor e poeta. Suas composições nos remetem a um universo difícil de descrever, navegam pelo excêntrico, pelo inovador, pelo conservador, profano e sacro, ora um, ora outro, ou tudo ao mesmo tempo. Acho que a definição de William Amorim, "o obsceno é quase religioso", traduz bem a essência das obras de Atallaia.
ResponderExcluirExcelente análise, digna da melhor poesia, que por sua vez é digna da melhor análise. Augusto Pellegrini
ResponderExcluirConheci Fernando Atallaia quando ainda era menino na arte do bom escrever, aliás não escrevia porcaria nenhuma, que é só o que nós poetas do tempo da internet e do blog sabe fazer, salpica e salpica o amor, esse beijo dado por Deus enquanto estávamos dormindo no ardor da criação sexual Dele em nós. Dito em outras palavras, e para quem conhece o Fernandinho no tempo pós-Jorge Amado e pós-Farol da Educação, que foi aí que passei a ter contato com ele pessoalmente, e pelo seu escrito descomunal intitulado A Casa, que para mim ele esmerou a casa indígena brasileira no tempo do descobrimento, sendo que ali era cansativo, ele mesmo quem disse. Lendo Fernando Atallaia como esse psicanalista fez, e Fernando não é um louco para ser redigido por um analista de cabeça, só quero saber que ele continua desacreditando nesse imponderável articulador da poesia sensata, Deus, pois, caminha nessa seara que mais tarde a música que tú compôs, Fernandinho, "Bandeira Dois", vem trazendo o teu astrolábio como o fez Renato Russo nas suas composições ateístas, isto é, ele morreu solitário e depressivo com a própria vida, que lhe ensinou mas este recusava ir atrás por que assim não queria, ele era o próprio autor da vida, dirá da sua própria vida, suas composições o transformaram num arrogante e presunçoso demais para a Rede Globo. Viva a realidade!
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