sábado, 18 de janeiro de 2020
Guerra Comercial
Washington ainda mantém tarifas sobre 360 bilhões de
dólares
em produtos importados de Pequim
Estados Unidos e China assinaram nesta quarta-feira(15) um acordo que encerra o primeiro capítulo na nociva guerra comercial que as duas
maiores potências mundiais travam há quase
dois anos. O acordo abre o mercado chinês a mais companhias norte-americanas, especialmente
do setor financeiro, supõe um aumento das exportações de
produtos agrícolas norte-americanos e contém
compromissos de respeito à propriedade intelectual, mas mantém em
vigor as tarifas a produtos chineses num valor de 360 bilhões de
dólares
(1,5 trilhão de reais). Essas tarifas permanecem vigentes,
afirmou Donald Trump durante a cerimônia da
assinatura na Casa Branca, para que os Estados Unidos possam ter “uma ferramenta negociadora” com vistas à segunda e última fase do acordo, cuja negociação,
segundo o presidente, começará imediatamente.
O acordo, de 86 páginas na sua versão em inglês, põe fim a dois anos de tensas negociações,
depois da ofensiva de um presidente que, como recordou nesta quarta-feira em
seu pronunciamento ao lado do vice-primeiro-ministro chinês, Liu
Hei, já havia
prometido em sua campanha eleitoral que teria pulso firme com a China, cujas práticas comerciais considera terem prejudicado a indústria
e o emprego nos Estados Unidos. O acordo, no início do ano em que o presidente tentará a
reeleição,
permitirá a
Trump vender uma vitória numa batalha que marcou seu primeiro mandato,
mas seus críticos poderão salientar o dano econômico
provocado pela longa disputa e o fato de que as frentes mais difíceis
continuam sem resolver.
“A China gastará mais de 200 bilhões de dólares [835,5 bilhões de reais] nos próximos dois anos em produtos norte-americanos”, disse Trump, que então discriminou os valores: 75 bilhões de
dólares
em bens industriais, 50 bilhões em energia, 50 bilhões em produtos agrícolas e entre 40 e 50 bilhões em
serviços,
incluídos os
financeiros. O presidente norte-americano destacou também os
avanços na
proteção da
propriedade intelectual e as “fortes
restrições"
à
desvalorização da moeda.
O acordo, entretanto, tem um alcance limitado e
deixa para a segunda fase, que o presidente Trump disse que será a última,
algumas das principais fontes das tensões entre ambas as potências. Fica fora do acordo qualquer compromisso da
China de mudar sua estrutura econômica, em particular sua política
de subsídios
para apoiar suas indústrias estratégicas, o que atrapalhar a concorrência,
e tampouco se obteve um compromisso de Pequim de maior transparência
na gestão de
dados e na segurança digital. Continuará havendo tarifas a produtos chineses num valor de
360 bilhões de
dólares,
mas os Estados Unidos se comprometem a não impor mais se a China cumprir seus compromissos.
O acordo, de 86 páginas na sua versão em inglês, põe fim a dois anos de tensas negociações.
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Isso não impediu Trump de falar no “maior acordo já visto”. “Juntos estamos corrigindo os erros do passado e
proporcionando um futuro de justiça e segurança econômica aos trabalhadores, agricultores e famílias
norte-americanas”,
disse o presidente. Depois, o vice-premiê chinês leu uma carta do presidente Xi Jinping e prometeu que Pequim “honrará
estritamente o acordo”.
Compareceram à cerimônia, além das duas delegações, dezenas de empresários norte-americanos, aos quais um Trump eufórico
foi saudando e elogiando um a um. Na sala, repleta de jornalistas (havia até 60 veículos
chineses credenciados), estavam também alguns destacados legisladores republicanos. No
outro extremo da avenida Pensilvânia, no Capitólio, os congressistas se preparavam para votar nos
procedimentos iniciais do julgamento no Senado sobre o impeachment de Trump,
que o presidente aproveitou para voltar a qualificar como “farsa”.
A obsessão de intervir nos fluxos comerciais em nome do benefício
dos trabalhadores americanos tem sido uma pedra angular da primeira agenda
americana de Trump. E é uma ruptura impressionante com o dogma de livre
mercado levantado pelas administrações americanas de um e outro sinal no último
quarto de século. O novo acordo comercial com o México e
o Canadá, que
substituirá o NAFTA e que Trump espera ser aprovado no Congresso
nas próximas
semanas, também contém medidas protecionistas.
Os compromissos adquiridos pela China nesta primeira
fase do acordo significarão um aumento considerável em comparação com os 128.000 milhões de dólares em produtos dos EUA que o país comprou
em 2017, ano que os negociadores usaram como referência.
Isso poderia prejudicar as empresas europeias ou japonesas, que estavam
cobrindo parte dessa demanda. Mas a predileção de Trump por impor restrições ao
livre comércio terá que passar por um novo teste quando, provavelmente
mais tarde neste ano, o foco passar para a União Europeia, o próximo objetivo do presidente. Resta saber se as
mesmas táticas
que sua equipe de negociação usou com a China funcionarão com
Bruxelas.
PABLO GUÍMON
EDIÇÃO DE ANB
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