sexta-feira, 5 de julho de 2019
CONFLITO ARMADO
Maior guerrilha em atividade no país, ELN continua com
delegação em Cuba e pressiona para reabertura de negociações
Há 55 anos surgiam na Colômbia, as duas maiores
guerrilhas da história do país.
Após um período de guerra entre as bases sociais
dos partidos Liberal e Conservador – desencadeada pelo assassinato do
presidenciável liberal Jorge Eliécer Gaitán e que deixou cerca de
180 mil mortos –, a resistência organizada de camponeses ligados aos
liberais dá origem, em 1964, às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(Farc) e ao Exército de Libertação Nacional (ELN).
Passado mais de meio século de conflito armado, em 2016, as
Farc firmaram um acordo de paz com o governo colombiano, deixaram as
armas e se tornaram o partido político Força Alternativa
Revolucionária do Comum, de mesma sigla.
Com o fato, o ELN passou a ser a maior guerrilha em atividade
no país, com 2,3 mil membros – ainda que seja um número aproximado e não
uma estimativa do próprio agrupamento armado.
Exército de Libertação Nacional tem atualmente 2,3 mil membros em 16 dos 32 estados colombianos. |
No ano seguinte, em Quito, capital do Equador, os
"elenos" – como são chamados os membros do ELN – sentavam-se
para negociar a paz com o governo de Juan Manuel Santos (2010-2018), após o
consentimento das duas partes em libertar reféns e prisioneiros de guerra.
Um cessar-fogo bilateral foi acordado até o final de 2018, mas, a partir de
janeiro daquele ano, as negociações ocorreram em meio a ataques de ambos os
lados.
Por conta da troca na presidência do Equador – que
atualmente está sob o comando de Lenín Moreno, um político avesso ao tom
mediador de conflitos e progressista como o era seu antecessor, Rafael Correa
–, os diálogos foram transferidos para Havana, em Cuba.
Quando Santos transmitiu a presidência da Colômbia ao
político de extrema direita Iván Duque, em agosto de 2018, seis rodadas de
diálogos haviam sido realizadas. Desde então, não houve novos encontros.
Neste 4 de julho, quando a guerrilha completa 55 anos de
atuação, integrantes do ELN seguem em Havana exigindo do governo colombiano a
retomada das negociações. Desde que Duque assumiu, as hostilidades da guerra
cresceram e, em janeiro deste ano, o presidente dissolveu a mesa e declarou
fugitivos os dez membros da equipe de negociação da guerrilha, além de
pressionar para que Cuba entregue os negociadores que esperam em Havana o
retorno dos diálogos.
A decisão foi tomada um dia após uma ofensiva da guerrilha
contra uma academia de polícia de Bogotá, que resultou em 22 cadetes
mortos. O ataque foi assumido pelo ELN, que divulgou nota afirmando ter se
tratado de uma resposta aos ataques das forças oficiais durante o cessar-fogo
das festas de fim de ano.
"Não perdemos a paciência e esperamos que nomeie sua
delegação. Que ele entenda que o futuro da Colômbia não é a guerra, que o que
faz a Colômbia ser uma nação viável é a paz. Então, que ele se coloque à altura
desse desafio, estamos esperando", afirmou o guerrilheiro Pablo Beltrán,
em entrevista com a delegação do ELN em Havana.
A guerrilheira Silvana Guerrero relatou que a delegação está
"presa em Cuba, sem a possibilidade de voltar à Colômbia, como está
estipulado no protocolo de ruptura do diálogo". Outra integrante da equipe
de diálogos do ELN, Consuelo Tapias destacou que o apoio da comunidade
internacional – de entidades como a Organização das Nações Unidas
(ONU) e dos países garantidores Cuba e Venezuela – permanece.
"A comunidade internacional fez um chamado, primeiro,
para que o processo de implementação [do acordo] com as FARC seja respeitado, e
para que se dê continuidade no diálogo conosco. Confiamos que o governo
colombiano vai escutar o chamado da maioria das vozes para que o processo de
diálogo continue", completou Tapias.
As informações são dos repórteres Rodrigo Chagas e Luiza Mançano
Edição de Vivian Fernandes
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