terça-feira, 19 de setembro de 2017
Argentina e Brasil são os maiores consumidores de agrotóxicos na AL, diz pesquisadora
Em entrevista, Silvia Ribeiro também fala da necessidade de promover a agricultura campesina e indígena.
Por Darío Aranda
A ameaça de fusão de grandes empresas (como a Bayer-Monsanto), o papel da ciência a serviço das corporações, o perigo dos novos transgênicos e a necessidade de promover a agricultura campesina e indígena. Esses são alguns dos temas sob os quais Silvia Ribeiro, uma das maiores pesquisadoras sobre o agronegócio, se dedica há mais de trinta anos. Para ela, os países da região "perderam sua soberania devido à extrema dependência em relação às empresas biotecnológicas".Integrante do Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração (ETC), Ribeiro foi uma das palestrantes no Encontro Intercontinental Mãe Terra - Uma só Saúde, realizado em Rosário, na Argentina, a partir da disciplina de Saúde Socioambiental da Faculdade de Ciências Médicas.
Confira a entrevista completa:
Como você analisa a situação da agricultura na região?
A América Latina está dividida em duas partes no que diz
respeito à situação agrícola. Existe a "República Unida da Soja"
(Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil) e os outros países.
Cabe recordar que depois de 20 anos de transgênicos, só 10 países têm
90% da sua produção transgênica. O que significa que os transgênicos
nunca chegaram a ser o fenômeno onipresente que querem nos fazer
acreditar.
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Silvia Ribeiro, uma das maiores pesquisadoras latino-americanas, esteve em Rosário, na Argentina para participar de um congresso. |
Quais são as características dos países dominados pelo modelo transgênico?
A estrutura agrícola sofreu um processo de concentração
corporativa e uma reforma agrária ao contrário, concentrou a terra em
menos mãos. A isso se soma as doenças provocadas pelos agrotóxicos. Um
dado alarmante é o fato de que a Argentina e o Brasil consomem 21% do
agrotóxico de todo o mundo.
Se a fusão Monsanto-Bayer quer impor condições
inaceitáveis, vai colocar de acordo com o nível de vulnerabilidade dos
países que dependem dessas corporações. Esses países perderam sua
soberania devido à dependência extrema à algumas empresas
biotecnológicas. O restante da América Latina está mais perto do consumo médio mundial. A maior
parte dos alimentos continuam sendo produzidas por pequenos agricultores
urbanos, camponeses, pela pesca artesanal. 70% do mundo se alimenta com
produtos da agricultura familiar e esse caminho merece ser aprofundado.
Há 20 anos a Monsanto não possuía sementes e agora é a
maior produtora de sementes do mundo. Há mais de 30 anos existiam mais
de 7 mil empresas de sementes. Agora, a Monsanto domina 25% do mercado
mundial de sementes. Em 20 anos aconteceram mais de 200 fusões, que
resultaram nas seis maiores empresas do agronegócio - Monsanto,
Syngenta, Dupont, Dow, Basf e Bayer. Estas empresas dominam o mercado mundial das sementes. E todas são produtoras de venenos.
Primeiro, elas concentram o mercado e, em seguida, começam as mega
fusões.
Monsanto-Bayer, Syngenta-ChenChina, Dow-Dupont são fusões
que controlam mais de 60% do mercado total de sementes (não só as
transgênicas) e 71% do mercado de agrotóxicos. São números exorbitantes.
Nenhuma repartição anti-monopólio deveria aprovar essas fusões.
Qual é o risco?
Elas controlam o preço, a inovação e impactam nas políticas
agrícolas. Países que estão com um alto grau de agricultura industrial,
como a Argentina, passam a estar em uma situação de vulnerabilidade.
Inclusive em relação à soberania. Estas empresas têm um poder de
negociação que é muito mais do que negociação, é poder de imposição
sobre países, apoiado em leis a seu favor.
Algumas empresas e alguns meios de comunicação estão
realizando uma campanha sobre os "novos transgênicos". Você tem suas
críticas. Eles chamam de edição de genoma. E contam com uma grande
manobra de propaganda e publicidade para não passarem por nenhuma lei de
biossegurança.
Do que se trata e quais são os riscos?
O desconhecimento sobre as funções do genoma é bastante
amplo. Agora eles querem que acreditemos que o que fazem os genes é algo
parecido a alterar um texto, em que se realizam pequenas mudanças que
não alteram o sentido geral. E isso é mentira. É como se você pegasse os
dez mandamentos em um idioma que não conhece e tirasse uma palavra, um
"não", por exemplo. Eles diriam que não altera nada. Mas é fundamental,
modifica todo o sentido.
Há um desconhecimento muito grande não só sobre para o que
servem os genes, algumas funções são conhecidas, mas não as interações
entre si nem as interações dos genes com as condições externas, como as
condições ambientais. O genoma não é um mapa estático. O grau de
incerteza é muito alto e tampouco se sabe sobre o seu impacto na saúde e
no ambiente.
Quais são as novas tecnologias transgênicas?
São várias. A principal é uma que descobriram em 2012, a
CRISPR (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente
Interespaçadas). Em síntese: se trata de um GPS com um par de tesouras. Crispr
é um GPS que te leva a uma parte do genoma e as Cas9 (enzimas associadas à
CRISPR) são as tesouras. É uma modificação genética com impactos imprevisíveis.
Implica na criação de mais transgênicos?
Com essas novas tecnologias é possível produzir
qualquer tipo de transgênico. É possível criar resistência a herbicidas,
desativar genes, agregar genes diferentes. Querem utilizá-las nos alimentos e
na saúde. Eles afirmam que é previsível, mas é exatamente o contrário. Com
essas tecnologias é possível, inclusive, eliminar espécies consideradas
incômodas, como o amaranto, que não pode ser controlado com agrotóxicos. Monsanto e Dupont são as maiores propulsoras dessas novas tecnologias.
Qual é o papel da ciência neste modelo?
Houve uma caça às bruxas brutal aos cientistas críticos.
Dois exemplos: as perseguições a Gilles-Éric Séralini na França e a
Andrés Carrasco na Argentina. O ataque midiático, econômico e político
às vozes críticas é feroz.
E a ciência dominante?
Em termos de política científica dominante é uma ciência
mercenária, vendida aos interesses das corporações. É uma tecnociência
que busca resultados para as empresas.
Qual é a opção?
A parte esperançosa tem a ver com este congresso, pois no
mundo existem, cada vez mais, pessoas críticas. E também há esperança
porque os campesinos estão decididos a seguir vivendo na terra onde
sempre viveram.
Tradução de Luiza Mançano
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