quinta-feira, 29 de junho de 2017
Mudança climática provocará uma explosão de vida na Antártida
Estudo publicado na
revista científica Nature afirma que degelo facilitará a expansão das espécies,
algumas invasoras, à custa de outras endêmicas, como os pinguins-de-adélia.
A mudança climática provocará o derretimento de amplas zonas da Antártida.
Como aconteceu em outras regiões e épocas, nos palcos do degelo haverá uma
explosão de vida. Segundo um estudo sobre o futuro do continente branco, porém,
a biodiversidade poderia sofrer com o aquecimento: as espécies antárticas são
tão únicas e endêmicas que sucumbirão ao avanço da fauna e da flora invasoras
que se adaptarem melhor a tempos mais cálidos. Dos 14 milhões de quilômetros
quadrados (27 vezes o tamanho da Espanha) de extensão da Antártida, apenas 0,5%
é livre de gelo. No entanto, esta pequena porção de terra, quase toda
concentrada na costa, abriga muita vida. As zonas sem vegetação são
aproveitadas por aves marinhas, pinguins e mamíferos marinhos para a formação
de grandes colônias. Mas também existem áreas – oásis no deserto gelado – que
exibem verde em forma de musgo, líquen, fungos e algas. Há inclusive espécies
de plantas vasculares. Essas ilhas de vida são habitadas por muitas espécies de
microfauna, que vão de pequenos artrópodes até bactérias, passando por
estranhas criaturas como os tardigrados (ursos d’água) e os rotíferos.
Até o final do século, essas ilhas de vida serão ampliados em cerca de
17.600 quilômetros quadrados. Esse é o principal dado de um estudo, realizado
por pesquisadores da missão antártica da Austrália e de várias universidades
desse país, publicado recentemente na revista Nature. E, como já foi
observado em regiões como o Ártico e os Alpes, onde o gelo se retira a vida
avança.
Colônias de pinguins-de-adélia, com a da imagem, serão prejudicadas pelo derretimento de gelo. |
“Embora a Antártida seja um continente enorme, a maior parte (capa de
gelo, geleiras, neve) não é um habitat apto para plantas e animais”, diz a
pesquisadora principal do estudo, Jasmine Lee, da Universidade Queensland
(Austrália). “Por isso, um aumento de 17.000 km2 significa um
aumento de 25% com relação ao total habitável atualmente. É muito mais habitat
disponível para as diferentes espécies.”
Até agora, quase todos os estudos sobre o impacto da mudança climática na
Antártida tinham focado nas consequências do degelo para todos, menos para a
vida do continente branco. Em particular, o interesse era na incidência do
aquecimento global sobre o clima regional, a circulação marinha e o aumento do
nível do mar. Nesta ocasião, Lee e seus colegas avaliaram a evolução do degelo
antártico e sua possível consequência: a expansão da vida pelas terras livres
de gelo. Para isso, propuseram dois cenários. Num deles, cumpre-se o Acordo de
Paris e são reduzidas as emissões globais de gás carbônico, limitando-se o
aumento de temperatura a menos de 2 graus centígrados. No outro cenário, mais
extremo, as emissões continuam e a temperatura global sobe acima da meta de
Paris.
Nos dois casos haverá degelo. Na pior hipótese, haverá zonas da
Antártida, como a Península Ocidental, onde as áreas livres de gelo serão
triplicadas. Isso fará com que algumas ilhas de terra cresçam e outras, hoje
separadas, se juntem. O aumento da radiação solar e a disponibilidade de água em estado líquido farão o resto: as espécies
que agora se limitam a estreitas faixas costeiras poderão avançar rumo ao
interior. Em princípio, isso deveria ser bom para a biodiversidade. Na
Antártida, contudo, a lógica da vida é outra.
“Não sabemos ao certo qual será o impacto global sobre a biodiversidade.
Ainda que, sem dúvida, haverá ganhadores e perdedores”, afirma Lee. O que já
foi observado em outras regiões permite pensar que muitas espécies expandirão
seu alcance geográfico. “A Antártida é hoje protegida pela dureza de seu clima
e por uma climatologia extrema, que impede o estabelecimento de espécies não
nativas”, diz a pesquisadora australiana. “Com a mudança climática, será mais
fácil para essas espécies se estabelecer.” Além disso, a conexão crescente
entre as ilhas de terra permitirá o deslocamento entre elas. “Muitas espécies
invasoras são generalistas, e é provável que tomem o lugar das espécies
nativas”, conclui Lee.
Algumas dessas mudanças já estão ocorrendo. Por exemplo, a distribuição
geográfica das duas espécies de pinguins antárticos, o pinguim-imperador e o
pinguim-de-adélia, está se contraindo em direção ao polo à medida que o gelo se
retira. Entre os ganhadores, parecem estar as duas únicas plantas vasculares
que aguantam o clima extremo. Tanto a Colobanthus quitensis (mais
conhecida como “erva-pilosa-antártica”) como a Deschampsia antárctica
estão se expandindo para o sul da Península Antártica. Mas isso também está
sendo feito pela Poa annua, uma espécie de planta de outras latitudes
que deslocou espécies autóctones nas ilhas mais próximas ao continente branco.
Para o britânico Matt Amesbury, membro da missão British Antarctic
Survey, o estudo de Lee e seus colegas mostra a necessidade de intensificar a
vigilância para proteger a frágil biodiversidade da Antártida. Há apenas um
mês, este pesquisador publicou um trabalho destacando o avanço progressivo do
verde no continente antártico. Para Amesbury, que não integrou a pesquisa,
“devemos adotar um enfoque muito rigoroso para garantir espécies invasoras que
não cheguem pela ação dos humanos.”
AS INFORMAÇÕES SÃO DO EL PAÍS
EDIÇÃO DE ANB ONLINE
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