quinta-feira, 28 de abril de 2016
Entenda como as mudanças anunciadas pelas “téles” vão mudar a sua vida
As
“téles” querem a Internet para poucos. Entenda o que vai mudar, na prática,
caso a nova cobrança anunciada pelas operadoras seja efetivada e saiba quem
serão os principais prejudicados
Nas
últimas semanas as operadoras de telecomunicação— também conhecidas como
“téles” — anunciaram que pretendem mudar a forma de cobrar pelo uso de Internet
banda larga fixa — essa que utilizamos em nossas casas, empresas e escolas. Se
estes planos se realizarem (em 22/4, a Anatel suspendeu-os
temporariamente), teremos que optar também, além da velocidade de navegação,
pelo limite de dados das franquias, como já ocorre no celular. Quando
atingirmos o limite previsto, a Internet será cortada. Para continuar
navegando, teremos que desembolsar mais e comprar um pacote adicional.
Essa
medida não atingirá apenas aquelas que passam muitas horas utilizando a Internet.
Pelo contrário, dados do Comitê Gestor da Internet revelam que o
principal uso que as pessoas fazem da rede, em todas as classes sociais, é navegar
nas redes sociais e ver vídeos, justamente o que consome muitos dados. Mas o
principal fator para pensarmos é que, se houver limite de franquias, certamente
haverá menos locais com Internet sem fio livre. Haverá ainda menos locais
públicos com acesso à rede, pois o custo envolvido em deixar uma conexão aberta
para uso geral será muito mais alto. Certamente, as escolas e universidades
limitarão o uso da rede para seus alunos, por exemplo.
As empresas de telecomunicações vêm argumentando que, assim como a conta de energia elétrica e a conta de água, as pessoas devem pagar pelo consumo. O presidente da Anatel, órgão responsável por regular o setor, chegou a com isso. No entanto, este argumento é um golpe e tenta convencer a população de uma falácia técnica |
O que veremos será uma Internet de segunda classe, onde os mais pobres terão acesso limitado a rede, talvez apenas para a troca de mensagens de texto. Fazer aquele curso a distância em vídeo, por exemplo, será um privilégio de quem pode pagar muito pela conexão.
A
ideia de que o usuário deve pagar pelo que consome na rede esconde um problema
de longa data no Brasil. As empresas de telecomunicação investem pouco na
infraestrutura e obtêm lucros vultuosos. Hoje é um dos setores que mais lucra
no país, ficando atrás apenas dos bancos.
Se
você mora no interior do país, numa cidade pequena, ou na zona rural, você
entende muito bem isso. Em grande parte do Estado, a Internet ainda é
discada. Em alguns lugares a conexão só é possível por pequenos provedores que
oferecem o serviço através de antenas de rádio.
Até
o momento, as empresas não apresentaram uma justificativa técnica para a
mudança nos contratos. Justificam que é preciso prevenir o “congestionamento”
mas nenhum estudo que comprove isso foi apresentado. Este tipo de cobrança por
franquia na conexão de banda larga fixa já é praticado em outros países como
Canadá e Irlanda e dados da iniciativa stopthecap.com mostram que o motivo não
é congestionamento, e sim aumento de lucros.
As
empresas de telecomunicações vêm argumentando que, assim como a conta de
energia elétrica e a conta de água, as pessoas devem pagar pelo consumo. O
presidente da Anatel, órgão responsável por regular o setor, chegou a com
isso. No entanto, este argumento é um golpe e tenta convencer a população de
uma falácia técnica.
Dizer
que as pessoas devem pagar pelo seu consumo é um golpe porque as operadoras
estão vendendo algo que não produzem. Diferentemente da água e da energia
elétrica, onde há um bem que é gerado de um lado e consumido de outro, na Internet as
operadoras não precisam “produzir” um volume de dados para o usuário consumir.
Nós gastamos dados na rede assistindo filmes, nos comunicando com outras
pessoas, enviando fotos, etc. Na maioria das vezes, é o próprio usuário quem
produz os dados que circulam na rede.
Até
o momento, a Internet fixa era cobrada apenas pela sua velocidade —
isso porque as operadoras de telecomunicações são responsáveis pela
infraestrutura que leva a conexão até o usuário final. Ou seja, o preço cobrado
corresponde ao investimento utilizado para que o cabo da rede chegue até a
nossa casa. O provedor não tem nada a ver com o conteúdo que circula na rede.
Além
do mais, o serviço de Internet no Brasil não é nem considerado um
serviço de telecomunicação. Desde 1995, a Internet é considera um “serviço
de valor adicionado”, ou seja, é um serviço que se utiliza das redes
físicas de telecomunicação. É por isso que desde então existe o Comitê
Gestor da Internet, um órgão multissetorial com participação de diversos
segmentos da sociedade, que é responsável por produzir diretrizes e
recomendações sobre a rede. Para regular as telecomunicações existe a Anatel.
Desde
então a Internet é explorada em regime privado, de maneira
concorrencial, diferente da telefonia. Ou seja, as operadoras não têm
obrigações legais ou metas a cumprir para a expansão e inclusão da Internet.
A rede chega apenas onde dá lucro.
Outro
argumento utilizado pelas empresas seria que algumas pessoas utilizam a rede de
forma intensa, para ver filmes, vídeos ou para jogos online. Este é outro
golpe. As empresas de conteúdo geralmente colocam seus servidores dentro dos
chamados datacenters das empresas de telecomunicação. Isso também é vantagem
para os dois lados. Primeiro porque o conteúdo chega mais rápido para o usuário
e segundo, porque a operadora de telecomunicação não precisa usar toda sua
infraestrutura para entregar o filme que você quer assistir. Geralmente, quando
você clica em play na sua série favorita, aqueles dados percorreram o caminho
da sua casa até as instalações da empresa de telecomunicações contratada.
É preciso lembrar que, no Brasil, aprovamos o Marco
Civil da Internet que estabelece a Internet como um direito fundamental do
cidadão e não apenas uma mercadoria. Precisamos de fato discutir a inclusão de
milhares de pessoas que não têm qualquer acesso à rede. Para isso, a melhor
forma é tratarmos a Internet como uma concessão em regime público, assim
como a telefonia, estabelecendo metas e contrapartidas para o setor.
Limitar o uso da Internet através da quantidade de
dados é um golpe na liberdade de expressão, num país que ainda tem dificuldades
em assegurar a democracia.
As informações são dos repórteres Fabricio Solagna e Manuela
D’Ávila, do Outras Palavras
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