sexta-feira, 15 de novembro de 2019
O aniversário de 130 anos da proclamação da República no Brasil, neste 15 de novembro de 2019, nos convoca a refletir sobre as...
O aniversário de 130 anos da proclamação da República no Brasil, neste 15 de novembro de 2019, nos convoca a refletir sobre as aspirações profundas do povo brasileiro de se constituir como tal e afirmar sua existência enquanto povo – nação.
A indagação do porquê nossa República de 130 anos é vazia de um projeto nacional comprometido com o desenvolvimento de seu povo nos leva a escrever esse artigo em um momento de efervescência em todo continente.
O Brasil, assim como a América Latina, apresenta peculiaridades na questão das formações nacionais, decorrente das contradições do processo histórico do desenvolvimento capitalista na região.
O resultado desse processo culminou na criação de um capitalismo dependente e na formação de um Estado Nação deturpado. É nesse sentido que o sociólogo Florestan Fernandes afirma que as relações de classes carecem de dimensões estruturais e, por isso, são sociedades que nascem condenadas à crise permanente e ao colapso total. Para Florestan, somos “sociedades em convulsão que estão permanentemente em busca do seu próprio patamar e tempos históricos”.
Essa ideia de sociedades em convulsão é um elemento em comum aos processos latino-americanos. Não à toa, temos assistido no último período essa sociedade colapsada, com as manifestações populares massivas no Equador, Haiti, Chile e Bolívia.
![]() |
Mais de um milhão de manifestantes tomaram as ruas de Santiago no dia 25 de outubro em novo protesto contra o governo de Piñera. |
Um primeiro elemento que temos que ter em conta é o caráter explosivo das lutas quando o povo entra na história mobilizado por temas de conteúdo democrático e nacional. Por outro lado, é preciso ter a clareza de que a violência é a marca do processo de conquista e colonização da região, em que os povos originários e os recursos naturais são utilizados de maneira brutal e sem limite.
Essa característica criou um tipo de organização social destrutiva, onde a forma de organizar a sociedade e a exploração da classe trabalhadora coincide com o processo predatório de devastação do território e da natureza. A violência com a qual o Estado combate os manifestantes também é produto dessa forma originária de sufocar a possibilidade desses povos se desenvolverem enquanto tal.
As lutas pelo fim da escravidão e pela libertação dos povos latino-americanos no século 19, gestaram um pensamento radical assumido por José Martí (Cuba) e Simon Bolívar (Venezuela), dando voz à Nuestra América oprimida, colonizada e submetida aos colonizadores e ao imperialismo.
Nesse sentido, as lutas populares no continente carregam a aspiração emancipatória dos povos oprimidos. Em contrapartida, a violência sobre os povos inviabilizam os ideais republicanos e esvaziam nossos Estados de seu sentido nacional. As lacunas deixadas ao longo do tempo com a não realização de diversas políticas sociais desencadearam no surgimento de movimentos de luta pela terra, pela água, pelos direitos sociais, etc.
Porém, com o acirramento da atual crise do capitalismo, as tarefas de conteúdo nacional, democrático e necessariamente popular assumem centralidade na luta de classes. Pela primeira vez na história, estamos vivendo a crise de um modo de produção que é hegemônico no mundo inteiro. As necessidades de acumulação do capital financeiro e das grandes corporações mundiais mudaram a forma de dominar o território e a economia de países dependentes, desencadeando numa verdadeira ditadura financeira que produz o esvaziamento da democracia e a concentração de riquezas.
A crise aparece na economia e se traduz em crise social, política, ambiental e de valores. Nessa crise, o poder econômico das empresas transnacionais também intensifica a disputa pelo seu programa nos processos eleitorais, sequestrando os operadores do Estado. Por isso, as saídas mais conservadoras não podem ser subestimadas.
A aspiração profunda dos povos latino-americanos, de entrarem na história como protagonistas da construção nacional e da contrarrevolução da ofensiva neoliberal, disputam palmo a palmo os rumos do processo que combina luta institucional, luta ideológica e luta de massas.
A eleição de López Obrador, no México, e de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, na Argentina; o segundo turno no Uruguai; as eleições municipais na Colômbia, vencendo forças uribistas em locais importantes; a eleição de Evo Morales na Bolívia; as manifestações populares no Chile, Equador, Peru e Haiti; o Lula Livre no Brasil; e a resistência da Venezuela e de Cuba. Todo esse cenário fornece o panorama dessa combinação de luta de classes acirrada, colocando povos oprimidos em movimento que buscam encontrar seu patamar e tempos históricos. As mobilizações dos oprimidos, assim como a liberdade provisória de Lula e a vitória de Evo, despertam esperanças e ódios.
As contradições da crise por si só não criam alternativas, elas só evidenciam as contradições do projeto dos nossos inimigos, como o caráter antinacional, antidemocrático e antipopular. Nossas Repúblicas que insistem em nascer são portadoras de um conteúdo democrático e soberano que se relaciona à contingência histórica da Libertação Nacional ainda por vir.
Nesse 15 de novembro, os hermanos latino-americanos que se levantam apontam a necessidade da construção de um projeto de país que resolva os problemas da vida do povo e, ao mesmo tempo, faça a mediação com as questões estruturais da nossa formação social e econômica.
Apenas no trabalho de base, contudo, em um processo de retomada de vínculo com o povo e colocando-se em movimento junto a ele, é que poderemos contribuir para que ele próprio assuma o conteúdo dessas propostas como suas e as transforme em ação num movimento libertador, sendo protagonista de sua própria história.
ITPS
EDIÇÃO DE ANB ONLINE
Assinar:
Postar comentários
(Atom)
Postagens mais visitadas
-
Os mais de 300 mil ribamarenses da terceira maior cidade do Maranhão pedem que a Força Nacional venha a São José de Ribamar para conter a on...
-
Valdenio Caminha já está oficialmente exonerado da PGE e não pode assumir cargos em nenhum dos três poderes do estado, segundo determinação ...
-
POESIA SEMPRE! Leia o poema ‘Se’ da obra inédita Horizontes Fustigados de autoria do poeta e jornalista maranhense Fernando Atallaia ...
-
As últimas movimentações policiais e políticas no Maranhão dão conta de que há duas guerras a todo vapor no estado. De um lado, a permanênci...
-
O fundador da Frente de Libertação de São José de Ribamar, movimento criado em 2014 que revolucionou o modo de se fazer política na terceir...
-
Os mais de 230 mil ribamarenses distribuídos nas áreas Limítrofes, Sede, Vilas e Zona Rural caem no debate das eleições a 19 meses do pleito...
-
O deputado federal Pastor Gil(PL), que vem realizando na Câmara Federal intenso trabalho em prol do Idoso e da Educação, pôs sua atuação par...
-
POESIA SEMPRE! Leia na íntegra o poema ‘Congenialidades’ da obra inédita Orvalhos Enfermos de autoria do poeta e jornalista maranhense ...
-
Dados do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) revelam que 10 do...
-
O senador Alessandro Vieira (PPS-SE) alcançou nesta quinta-feira (14) o número mínimo de 27 assinaturas para reapresentar um pedido de criaç...
Pesquisar em ANB
Nº de visitas
Central de Atendimento
FAÇA PARTE DA EQUIPE DA AGÊNCIA DE NOTÍCIAS BALUARTE
Denúncias, Sugestões, Pautas e Reclamações: agencia.baluarte@hotmail.com
atallaia.baluarte@hotmail.com
Sua participação é imprescindível!
Denúncias, Sugestões, Pautas e Reclamações: agencia.baluarte@hotmail.com
atallaia.baluarte@hotmail.com
Sua participação é imprescindível!
Nossos Seguidores
Parceiros ANB
-
-
-
-
-
-
-
ACADEMIA CAXIENSE DE LETRAS – 28 ANOSHá uma semana
-
-
-
-
-
0 comentários:
Postar um comentário