segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Por Reinaldo Azevedo
Entre 2004
e 2012, Paulo Roberto Costa foi diretor de Abastecimento e Refino da
Petrobras. Ocupou, portanto, esse cargo, em sete dos oito anos do
governo Lula e em quase dois do governo Dilma. Ao longo desse tempo,
comandou o que pode ser chamado de “Petrolão” — ou o mensalão da
Petrobras. As empreiteiras que faziam negócio com a estatal pagavam
propina ao esquema e o dinheiro era repassado a políticos. A quais?
Paulo Roberto já entregou à Polícia Federal e ao Ministério Público, num
acordo de delação premiada, os nomes de três governadores, de um
ministro de estado, de um ex-ministro, de seis senadores, de 25
deputados e de um secretário de finanças de um partido. Segundo o
engenheiro, Lula sempre soube de tudo. E, até onde se pode perceber por
seu depoimento, talvez a presidente Dilma — que era a chefona da área de
energia do governo Lula e presidente do Conselho da Petrobras — não
vivesse na ignorância. Paulo Roberto diz que a compra da refinaria de
Pasadena foi, sim, fraudulenta e serviu para alimentar o esquema.
Paulo
Roberto começou a prestar seu depoimento no dia 29 de agosto. Já gravou
42 horas de conversa. E, tudo indica, está apenas no começo. O
Ministério Público Federal e o STF acompanham a operação, já que a
denúncia envolve uma penca de autoridades com direito a foro especial. O
esquema que ele denuncia é gigantesco. Ainda voltaremos muitas vezes a
esse tema. Mas notem como é ridícula toda aquela conversa sobre
financiamento público de campanha. Ainda que isso existisse, o mecanismo
não serviria para impedir que máquinas criminosas se instalassem em
estatais. Se o Brasil quer acabar com boa parte da roubalheira, deve
começar privatizando as empresas públicas. Quais? Todas!
O esquema começou no governo dele, que, segundo Paulo Roberto, sabia de tudo… |
VEJA teve
acesso a parte do depoimento de Paulo Roberto e traz reportagens
exclusivas na edição desta semana, com a lista dos nomes citados por
Paulo Roberto. Entre eles, estão cabeças coroadas da política
brasileira, como o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que
morreu num acidente aéreo no dia 13 de agosto, a governadora do
Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e Sérgio Cabral, ex-governador do Rio
(PMDB). Paulo Roberto acusa ainda Edison Lobão, atual ministro das Minas
e Energia, e atinge o coração do Congresso: estão em sua lista os
presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL).
PT, PMDB e PP seriam os três beneficiários
do esquema, que teria também como contemplados os senadores Ciro
Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR), e os deputados João Pizzolatti
(PP-SC) e Candido Vaccarezza (PT-SP), que já havia aparecido como um
dos políticos envolvidos com o doleiro Alberto Youssef, que era quem
viabilizava as operações de distribuição de dinheiro. Mas há muitos
outros, como vocês poderão constatar nas reportagens de VEJA, como Mário
Negromonte, ex-ministro das Cidades, do PP da Bahia.
Lula e
Dilma não quiseram se pronunciar a respeito. Os demais negam
envolvimento com Paulo Roberto. Alves, o presidente da Câmara, chega a
dizer ao repudiar a acusação: “A Petrobras é petista”. Que o PT
estivesse no centro do esquema, isso parece inegável. Um dos nomes da
lista feita pelo engenheiro é João Vaccari Neto, o homem que cuida do
dinheiro do PT. É secretário de Finanças do partido. Ele é, vejam a
ironia da coisa, o substituto de Delúbio Soares. Não é a primeira vez
que seu nome frequenta o rol de envolvidos em escândalos.
Paulo
Roberto tem noção da gravidade de suas acusações. Tanto é que, quando
ainda hesitava em fazer a delação premiada, cravou a frase: “Se eu
falar, não vai ter eleição”.
E por que
falou? A interlocutores, ele diz que não quer acabar como Marcos
Valério, que ficará por muitos anos na cadeia, enquanto os chefões
políticos do mensalão já se preparam para viver dias felizes fora do
xadrez. O homem também está muito magoado com a presidente Dilma. Até
agora, ele não fez nenhuma acusação direta à candidata do PT à reeleição
— Lula não escapou —, mas deixa claro que ela foi, sim, politicamente
beneficiada pelo propinoduto, que mantinha feliz a base aliada.
…e continuou no governo dela. Será que não sabia? O engenheiro está magoado com a presidente… |
Qual vai
ser o desdobramento político disso? Vamos ver. Uma coisa é certa: as
revelações de Paulo Roberto atingem em cheio as duas candidatas que
lideram a disputa pela Presidência da República: Dilma, por razões
óbvias, e Marina, por razões menos óbvias, mas ainda assim evidentes.
Ela é a atual candidata do PSB à Presidência. Confirmadas as acusações
de Paulo Roberto, é de se supor que o esquema ajudou a financiar as
ambições políticas de Campos, de que ela se tornou a herdeira.
A situação
de Dilma, obviamente, é mais grave: afinal, ela era a czarina do setor
energético, ao qual pertence a Petrobras. Presidia também o seu
conselho. Deu um empregão para Nestor Cerveró, o homem que ajudou a
viabilizar a compra de Pasadena, que Paulo Roberto agora diz ter sido
fraudulenta. O chefão das finanças de seu partido é um dos implicados no
esquema.
Paulo
Roberto ainda está preso. Ele se comprometeu a abrir mão dos bens que
acumulou em razão do esquema fraudulento e a pagar uma multa. As pessoas
que atuam na investigação têm agora de confrontar suas informações com
outras provas colhidas, com o objetivo de verificar se suas informações
são procedentes. Se forem e se ele realmente ajudar a desbaratar um
esquema de falcatruas bilionárias, pode até ganhar a liberdade.
A República treme.
Reinaldo Azevedo é blogueiro de Veja.
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