quarta-feira, 14 de maio de 2014
MORRE AOS 89 ANOS O POETA JOSÉ CHAGAS
Morreu na tarde desta terça-feira aos 89 anos o poeta José Chagas. O escritor estava internado desde o dia 23 de abril no Hospital UDI em São Luís, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um infarto.
Natural de Piancó, na Paraíba, José Francisco das
Chagas nasceu no dia 29 de outubro de 1924, mas se mudou para o Maranhão a mais
de 50 anos e é reconhecido como uns dos principais nomes da literatura
maranhense. Ele era membro da Academia Maranhense de Letras (AML), onde ocupava
a cadeira de número 28.
Poeta José Chagas viveu no Maranhão sem ter que utilizar da prática local de beijar a mão das oligarquias ultrapassadas |
Dentre as principais obras do escritor
estão Canhões do Silêncio’, ‘Os Telhados’, ‘Azulejos do Tempo’,
‘Apanhados do Chão’ e ‘Maré/Memória’.
No ano passado José Chagas recebeu duas
homenagens . Uma da Academia Maranhense de Letras com a reedição da obra
'Colégio do Vento' e a outra com a gravação de um disco intitulado 'A
Palavra Acesa de José Chagas' aonde poemas seus foram musicados e viraram
canções gravadas por cantores maranhenses e nomes importantes da MPB.
Governadora decreta luto oficial de 3
dias
A governadora Roseana emitiu Nota de Pesar,
destacandoo amor e a dedicação de Chagas à Literatura. Segue a íntegra da
nota:
A governadora Roseana Sarney lamentou
profundamente a morte do escritor e poeta José Chagas, ocorrida nesta
terça-feira (13), em São Luís. Ela lembrou que Chagas, sendo paraibano de
Piancó escolheu o Maranhão para viver há mais de meio século, tendo louvado o
estado em sua obra, principalmente São Luís, e merecido o título de imortal da
Academia Maranhense de Letras.
Roseana Sarney se solidarizou com familiares
e amigos do autor de livros como Os Telhados, Apanhados do Chão,
Maré/Memória e Azulejos do Tempo, enfatizando o amor e a dedicação dele à
literatura.
Hoje é um dia triste para a cultura
maranhense e brasileira. José Chagas é reconhecidamente um dos maiores nomes
das letras do país e ficará eternizado por meio de seus versos. Ele deixa um
legado de rimas perfeitas que nos inspira a enveredar pelo mundo da poesia,
afirmou a governadora Roseana.
[POR TRÁS DO POEMA]
Por trás do poema
não se respira
Ventos se quebram
rolam onde o chão trabalha
um verde de outra cor
Por trás do poema
devemos estar mortos
inoticiados
Palavras emigram
vão para o labor de espessas
emoções
Por trás do poema
as chuvas se gastam
gastam-se os vôos os frutos
a alegria branca das praias
O tempo inicia seus escombros
por trás do poema
Uma rua de estátuas
cai sua cinza
cai o seu nada
de muitos séculos
E um rio em si mesmo se afoga
seca em suas areias
a vontade de mar
Não olheis nunca por trás do poema
podem vossos olhos
em sal tornar-se
José Chagas na voz dos poetas, críticos, ensaístas e jornalistas- a Pequena Fortuna Crítica:
‘’Tive a honra de receber das mãos dele o prêmio do Festival Maranhense de Poesia em 2001 quando fui um dos premiados. José Chagas foi e é para mim um dos maiores poetas de nosso País. Um dos meus baluartes que a mim influenciou diretamente. Li todos os seus livros e conheço sua obra com a admiração, o carinho e o respeito que ela exige e merece. O sentimento de luto perdeu para o amor à Poesia que ele mesmo me ensinou a carregar por onde ando e passo. Um dia me disse que eu era um poeta e acabei acreditando. Minha geração cultivou e amou José Chagas para além-vida, para além-morte. O fato é que nos preparamos para este momento e nós o amaremos para sempre’’.
Fernando Atallaia, jornalista e poeta da Geração 90 da Poesia Maranhense, um dos integrantes do Grupo Carranca de Poesia.
“José Chagas supera de longe as limitações provincianas para instalar-se nas dimensões mais amplas do provincial, tendo reconduzido nosso lirismo às fontes autênticas da inspiração que são do homem e da paisagem concretamente existentes no mundo real (...).”
Wilson Martins, crítico literário, da Academia Brasileira de Letras.
‘’No Maranhão e para o Maranhão construiu sua obra literária, sem dúvida alguma das mais importantes entre nós nos últimos tempos. Autor de milhares de crônicas que são, na maioria, dedicadas a São Luís, José Chagas já não é, apenas, o cronista da cidade, mas um dos maiores poetas que a cantaram em qualquer tempo’’.
Luís Augusto Cassas, poeta da Geração 70 da Poesia Maranhense, um dos integrantes do Movimento Antroponáutica.
‘’José Chagas ao lado de Ferreira Gullar, Nauro Machado e Bandeira Tribuzi forma a representatividade máxima da poesia brasileira moderna no Maranhão’’.
Antonio Olinto, jornalista e crítico literário, da Academia Brasileira de Letras.
‘’Como pela mão de um Bilac a
quem coube, longe do bulício
das ruas, o milagre da mais alta
poesia a vir rolando após
para as congeminadas mãos
molhadas com o sangue de
Cristo, o que ocorreu com o genial
Jorge de Lima, e à semelhança
de um Xavier de Maistre
a viajar pelo mundo em volta
do seu quarto, ou de um Amiel
a revolutear em torno dos infindáveis
problemas estéticoexistenciais
expostos no seu
“Diário Íntimo”, o poeta José
Chagas, há muito sabedor de
que “a melhor viagem é a de
quem fica “, escreve milhares e
milhares de versos, longe do
bulício das ruas, e no refluir das
ondas humanas de uma reclusa
praia a inexaurir-se jamais,
graças ao inesgotável das suas
invisíveis marés’’.
poesia a vir rolando após
para as congeminadas mãos
molhadas com o sangue de
Cristo, o que ocorreu com o genial
Jorge de Lima, e à semelhança
de um Xavier de Maistre
a viajar pelo mundo em volta
do seu quarto, ou de um Amiel
a revolutear em torno dos infindáveis
problemas estéticoexistenciais
expostos no seu
“Diário Íntimo”, o poeta José
Chagas, há muito sabedor de
que “a melhor viagem é a de
quem fica “, escreve milhares e
milhares de versos, longe do
bulício das ruas, e no refluir das
ondas humanas de uma reclusa
praia a inexaurir-se jamais,
graças ao inesgotável das suas
invisíveis marés’’.
Nauro Machado, poeta, crítico literário e ensaísta.
O poeta em sua Poesia
Lavoura azul
|
José Chagas
|
[POR TRÁS DO POEMA]
Por trás do poema
não se respira
Ventos se quebram
rolam onde o chão trabalha
um verde de outra cor
Por trás do poema
devemos estar mortos
inoticiados
Palavras emigram
vão para o labor de espessas
emoções
Por trás do poema
as chuvas se gastam
gastam-se os vôos os frutos
a alegria branca das praias
O tempo inicia seus escombros
por trás do poema
Uma rua de estátuas
cai sua cinza
cai o seu nada
de muitos séculos
E um rio em si mesmo se afoga
seca em suas areias
a vontade de mar
Não olheis nunca por trás do poema
podem vossos olhos
em sal tornar-se
Soneto da manhã primeira
Quero a
manhã exata, a manhã viva,
pois estas
luzes e estes vôos na aurora,
são só
ensaios de manhãs. E agora
o que eu
quero é a manhã definitiva,
a autêntica
manhã pura, exclusiva,
manhã
nascida de si mesma e fora
desta
jubilação falsa e sonora
que só por
um momento nos cativa.
Ah, a manhã
da última promessa,
manhã de um
novo mundo que começa,
mais
acessível, mais humano e bom.
Meu Deus,
seria como chegasse
a manhã do
primeiro sol que nasce,
da cor
primeira e do primeiro som.
(Canção da
Expectativa/1955)
O apito do passado
O Mearim
derrama na distância
uma água que
em sonhos nos invade,
como fio
invisível que se lance a
separar em
duas a cidade.
E essa água
vem banhar sem que se canse a
vida inteira
que no rio nade,
porquanto
água de amor que lava infância
lava também
velhice e mocidade.
Mearim - rio
velho e rio novo,
alegria e
aflição de um mesmo povo –
um mar se
afoga nos mistérios teus.
Mas
preservas em ti, para Pedreiras,
vibrando no
ar, o apito das primeiras
lanchas que
nos deixaram seu adeus.
(Cem Anos de Infância ou o Poeta e
o Rio, 1985)
13,45
Trezentos
anos afiam suas navalhas de réstias,
decepam trevas diárias, procriadas nos sótãos
traem a consciência noturna que os ratos desgastam
em sua fome óssea, perpétuo ranger de dentes
trabalhando a cinza e o eco dos tempos.
Trezentos anos estão entre muros
onde verto meus olhos e me dou à morte
em extensão e renúncia.
Trezentos anos provocam abalo na raiz da infância
perdida em chão de homem,
me exigem nascer do parto essencial
e me revertem para a devida origem:
sopro-canto
pó-poema
verbo-cousa
me inscrevo no espaço-tempo:
(aquimeuontem
meuhoje
lá amanhã lá)
horizonte-século
janela-hora
soalho-eu
Os anos me reexistindo
me resistindo
os ares me exigindo o vôo
asa
ao o azul
sul
decepam trevas diárias, procriadas nos sótãos
traem a consciência noturna que os ratos desgastam
em sua fome óssea, perpétuo ranger de dentes
trabalhando a cinza e o eco dos tempos.
Trezentos anos estão entre muros
onde verto meus olhos e me dou à morte
em extensão e renúncia.
Trezentos anos provocam abalo na raiz da infância
perdida em chão de homem,
me exigem nascer do parto essencial
e me revertem para a devida origem:
sopro-canto
pó-poema
verbo-cousa
me inscrevo no espaço-tempo:
(aquimeuontem
meuhoje
lá amanhã lá)
horizonte-século
janela-hora
soalho-eu
Os anos me reexistindo
me resistindo
os ares me exigindo o vôo
asa
ao o azul
sul
(De “ Os
telhados”, 1965)
Com informações da TV Guará, Portal Hoje, Fernando Atallaia(arquivo) e O Imparcial.
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