domingo, 7 de julho de 2013
'Não dá para misturar arte e política', diz o irlandês John Banville na Flip
Para ele, 'a única obrigação da arte é ser arte'.
Com declarações
irônicas, autor dividiu mesa com americana Lydia Davis.
Do G1
Foi apenas durante a resposta da última pergunta de sua apresentação na 11ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) que John Banville recebeu os aplausos mais intensos de plateia. Alguém no público enviou uma questão sobre arte e política. O irlandês, que dividiu a mesa com a americana Lydia Davis, comentou: "Não dá pra misturar arte e política, porque acaba saindo arte política e política ruim".
A defesa foi esta: "Não é possível fazer declarações políticas através da arte, e nem o contrário. A única obrigação da arte é ser arte, este é o meu trabalho". A mediação do encontro foi do crítico e acadêmico Samuel Titan Jr.
Lydia Davis deu resposta distinta, mas não exatamente reveladora. “Acho que as convicções políticas acabam aparecendo no seu trabalho de maneira natural”, disse. “Tudo que você sente, pensa e é acaba aparecendo. Não precisa de propósito, pensar: ‘Eu vou escrever algo político’.”
Mais original foi o exemplo que ela deu sobre a maneira que aborda, em sua obra, tais questões. A escritora contou que escreveu uma “história muito curta” contra pessoas que têm esculturas feitas em arbustos. “Elas têm uma estátua de um viadinho, mas matam o viadinho numa caçada. Não é uma convicção política [minha], mas, sim, uma convicção dos direitos dos animais.”
John Banville e Lydia Davis participam de mesa na Flip 2013 |
A mesa chamava-se “Os limites da prosa”, muito por causa do experimentalismo usualmente associado ao trabalho Lydia: ela escreve pequenas histórias que podem ser percebidas como contos ou prosa poética ou uma mistura das duas coisas.
A mesa chamava-se “Os limites da prosa”, muito por causa do experimentalismo usualmente associado ao trabalho Lydia: ela escreve pequenas histórias que podem ser percebidas como contos ou prosa poética ou uma mistura das duas coisas. Se não chegou a empolgar, o assunto rendeu uma discussão acessível sobre as respectivas inspirações literárias e opções estéticas. Sobressaiu John Banville, que não desperdiçou as chances de ser irônico.
Ao término da resposta à primeira questão feita pelo mediador, por exemplo, o escritor afirmou: “As pessoas me dizem de onde você tira suas ideias? Eu digo: ‘Ora, de onde vêm os seus sonhos?’. Eu não quero saber [de onde vem a inspiração], prefiro não saber”. Em seguida, dirigiu a Samuel Titan: “Isso evasivo o suficiente para você?”.
Neste momento, do interior da Tenda das Autores, foi possível ouvir uma sirene – o som vinha de fora. “Você foi evasivo demais, vão te prender”, brincou Titan. Banville devolveu: “Desculpe, eu deveria ter sido mais direto, eu me rendo!”. O irlandês repetiria a piada em outras ocasiões em que questionava a qualidade das próprias piadas.
Mesmo Lydia aproveitou a deixa, a se dizer preocupada com os bilhetinhos que chegavam às mãos do condutor da conversa (perguntas enviadas pelo público). "É um bilhetinho pra mim, eu tenho de sair e me encontrar com a polícia - é isso?", Banville completou.
Na maior parte do tempo, contudo, a abordagem central foi a concepção da obra dele e de Lydia. "Uma vez alguém pediu pra [James] Joyce explicar 'Ulisses' em uma frase, e ele falou: 'Frase que tamanho?'", citou o irlandês. "Sempre é um perigo, sempre existe esse risco de que a prosa vai ficar tão elaborada, tão rebuscada, que perde o sentido."
Lydia contribuiu para o assunto. "O problema é que a escrita pode ser algo muito assustador. Tento não entrar na situação apavorante de estar diante da página em branco e falar: 'Agora começa!'", detalhou.
"O que faço é sempre tomar nota das coisas que acontecem comigo – pode ser uma mosca pousada no papel, uma conversa que ouvi na rua. Tenho muitos bloquinhos. Em geral, o conto está lá esperando. Às vezes, pego esses papeizinhos e levo para minha mesa, vou melhorando um pouco."
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